DEFESA
Guarda a manhã como uma rosa,
Molha-a, que a noite vem aí.
Dorme tu nos espinhos; goza
O que é próprio de ti.
Não dês flores a ninguém
Que tua mão lhe corte,
E, se puderes,
Leva as mais que puderes à tua morte
Em coroa que te fique bem.
Não gastes o jardim puro
De que tu mesmo és terra:
A tua vida, muro,
Teu coração a encerra.
Rosas façam de sangue os que as desejam;
Cada um se floresça:
As tuas não se vejam
Quando a roseira cresça.
Abre ao lume doído
Os botõezinhos novos.
No ninho despido,
Ave, os teus ovos.
Ao frio e ao escuro cria
Larvas de luz compostas
Do que deita alegria
Sobre as coisas que gostas.
Mas rosas dadas, não:
Nem que tu fosses flores
E raiz teu destino
Engrossando no chão.
As tuas flores
São do menino
Sempre foste. Não!
In “O Bicho Harmonioso”
(1901-1978)
DEFESA
O sól é meu e dos meninos ricos...
- Triste de quem não vê florir as rosas!
Triste de a quem somente foram dadas
ruas sombrias, lôbregos desvãos!
Ah!, mas não tenho a culpa. Sou moreno
sou forte, porque o Sol me quer assim.
Digam ao Sol, se entendem, que se esconda:
não me peçam a mim que esconda as mãos,
nem que neguem meus olhos e meus lábios
o milagre de o Sol gostar de mim!
In "Cabo da Boa Esperança"
Edições Ática
Sebastião da Gama
1924 – 1952
DEFESA
ah esta velha mania
de prolongar na noite o parco dia
e rebuscar na solidão maior
remédio
para o tédio
e para a dor
ah esta velha doença
de alinhar sinónimos de fel
ao longo do papel
e de gravar sinais de desvario
de loucura e de frio
nesta segunda pele
com a crença
de que a estrutura em verso
defendendo o meu íntimo vazio
suportará o peso do universo
In “Desesperânsia”
Corpos Editora
Anthero Monteiro
N. 1946
. Mais poesia em
. Eu li...
. Recordando... Vitorino Ne...
. Recordando... Sebastião d...
. Recordando... Anthero Mon...