CORPO
Corpo
que te seja leve o peso das estrelas
e de tua boca irrompa a inocência nua
dum lírio cujo caule se estende e
ramifica para lá dos alicerces da casa
abre a janela debruça-te
deixa que o mar inunde os órgãos do corpo
espalha lume na ponta dos dedos e toca
ao de leve aquilo que deve ser preservado
mas olho para as mãos e leio
o que o vento norte escreveu sobre as dunas
levanto-me do fundo de ti humilde lama
e num soluço da respiração sei que estou vivo
sou o centro sísmico do mundo
In “A Noite Progride Puxada à Sirga”
Al Berto **
(1948-1997)
** Pseudónimo de Alberto Raposo Pidwell Tavares
TEU CORPO DE AGOSTO
Teu corpo é Agosto
Tu cheiras a verão
por baixo das veias
Tu cheiras a quente
Tu cheiras à febre
do sangue maduro
Teu ventre de orgia
teu cheiro a sodoma
aroma-mulher
Teu corpo de Agosto
tem cheiro a Setembro.
In "Amor no feminino"
Editora Fora do Texto – 1997 – Coimbra – Portugal
Manuela Amaral
1934 – 1995
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