Mandaste-me dizer,
no teu bilhete ardente,
que hás-de por mim morrer,
morrer muito contente.
Lançaste no papel
as mais lascivas frases;
a carta era um painel
de cenas de rapazes!
Ó cálida mulher,
teus dedos delicados
traçaram do prazer
os quadros depravados!
Contudo, um teu olhar
é muito mais fogoso,
que a febre epistolar
do teu bilhete ansioso:
Do teu rostinho oval
os olhos tão nefandos
traduzem menos mal
os vícios execrandos.
Teus olhos sensuais,
libidinosa Marta,
teus olhos dizem mais
que a tua própria carta.
As grandes comoções
tu, neles, sempre espelhas;
são lúbricas paixões
as vívidas centelhas...
Teus olhos imorais,
mulher, que me dissecas,
teus olhos dizem mais,
que muitas bibliotecas!
In “Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica”
Selecção, prefácio e notas de Natália Correia
5ª Edição – Outubro de 2008
Antígona/Frenesi
Cesário Verde
1855 – 1886
MANIAS!
O mundo é velha cena ensanguentada,
Coberta de remendos, picaresca;
A vida é chula farsa assobiada,
Ou selvagem tragédia romanesca.
Eu sei um bom rapaz, – hoje uma ossada, –
Que amava certa dama pedantesca,
Perversíssima, esquálida e chagada,
Mas cheia de jactância quixotesca.
Aos domingos a deia já rugosa,
Concedia-lhe o braço, com preguiça,
E o dengue, em atitude receosa,
Na sujeição canina mais submissa,
Levava na tremente mão nervosa,
O livro com que a amante ia ouvir missa!
Cesário Verde
1855 – 1886
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