CANÇÃO
Tu eras neve.
Branca neve acariciada.
Lágrima e jasmim
no limiar da madrugada.
Tu eras água.
Água do mar se te beijava.
Alta torre, alma, navio,
adeus que não começa nem acaba.
Eras o fruto
nos meus dedos a tremer.
Podíamos cantar
ou voar, podíamos morrer.
Mas do nome
que maio decorou,
nem a cor
nem o gosto me ficou.
In “As palavras Interditas - Até Amanhã”
Assírio & Alvim
Eugénio de Andrade **
(1923-2005)
** Pseudónimo de José Fontinhas
CANÇÃO
Em sonho, tómo nas minhas,
As tuas mãos de luar,
E tenho duas rolinhas
Nas minhas mãos, a arrulhar.
E depois, em sonho ainda,
Deixando as rolas fugir,
A tua cabeça linda
Afago e beijo, a sorrir.
Continua o sonho mago.
E eu sempre no sonho loiro
Em mil carícias afago
Teu lindo cabelo d’oiro...
E as minhas mãos afagando
Teu cabelo d’oiro mole,
Amor! são a terra andando,
Girando em volta do Sol!
In Revista “Contemporanea”
Director – José Pacheco
Redactor Principal – Oliveira Mouta
Editor – Agostinho Fernandes
Ano I – Volume I – Nº 2 – Ano 1922
Pág. 52
José Bruges d’Oliveira
1899 – 1951
Grafia original
CANÇÃO
Que saia a última estrela
da avareza da noite
e a esperança venha arder
venha arder em nosso peito
E saiam também os rios
da paciência da terra
É no mar que a aventura
tem as margens que merece
E saiam todos os sóis
que apodreceram no céu
dos que não quiseram ver
- mas que saiam de joelhos
E das mãos que saiam gestos
de pura transformação
Entre o real e o sonho
seremos nós a vertigem
In “Poesias Completas”
Assírio & Alvim
Alexandre O'Neill
1924 – 1986
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