SONETO
Amor, se uma mudança imaginada
É já com tal rigor minha homicida,
Que será se passar de ser temida,
A ser, como temida, averiguada?
Se só por ser de mim tão receada,
Com dura execução me tira a vida,
Que fará se chegar a ser sabida?
Que fará se passar de suspeitada?
Porém se já me mata, sendo incerta,
Somente imaginá-la e presumi-la,
Claro está (pois da vida o fio corta).
Que me fará depois, quando for certa,
Ou tornar a viver para senti-la,
Ou senti-la também depois de morta.
Rimas Várias
In “Breve Antologia Poética do Período Barroco”
Livª. Civilização Editora – Porto e Contexto Editora – Lisboa
Soror Violante do Céu
1602 – 1693
SIGNIFICAÇÕES DAS FLORES MORALIZADAS
NARCISO GENTILEZA
Tem o narciso tanta gentileza,
Que na fonte o rendeu sua beleza,
E hoje, porque o conte,
Há narciso do espelho, e não da fonte,
Homem, que sem conselho,
Como dama te alindas ao espelho,
Olha bem que só toca neste espaço
O cristal à mulher, a ti o aço,
Abraça o que te é próprio,
Que ser homem, e flor está impróprio,
Se és belo procede de tal arte,
Que quem te vê Narciso, te olha Marte.
In “Cem Poemas Portugueses no Feminino”
Selecção e org. de José Fanha e José Jorge Letria
Editora Terramar
Soror Maria do Céu
1658 – 1753
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