TREVA LUMINOSA
Ó minha quási Mãe, é neste instante
que parte para a vida o meu livrinho;
vai pela mão, vai confiante,
não tem mêdo ao caminho.
E eu beijo, fervorosa,
a doce mão que, sendo pequenina,
é forte e gloriosa;
e ajoelho ante a alma peregrina
que, em dor crucificada, em dor suprema,
da sua própria treva ainda ilumina,
com palavras de luz, o meu poema;
e, assim, ó alma grande e generosa,
alma egrégia e divina,
a tua treva é… treva luminosa.
In “Trevas Luminosas”
Portugália Editora - 1919
Cândida Ayres de Magalhães
(1875-1964)
MOCIDADE
Não ter amor, esperança ou fé que alente,
não ter sequer um bem que nos sorria,
nem consolo, nem paz... e não ter guia
na vida que promete e assim nos mente;
sentir, dentro de nós, sempre gemente,
o coração faminto de alegria,
como um cego que pela luz do dia
viva a chorar na sua noite ingente-;
bradar, erguendo os braços para a Morte:
“Em ti encontrarei quem me conforte;
Oh! leva quem não deixa uma saudade!...”
E volver-nos, de longe, a Morte: “É cedo,
és moço ainda, cumpre o teu degredo!”
Para quantos é isto a mocidade...
In “Antologia da Poesia Feminina Portuguesa”
Organizada por António Salvado
Edições JF (Jornal do Fundão)
Cândida Ayres de Magalhães
(1875-1964)
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