APELO
Dá-me as tuas mãos,
e corramos livres pelas ruas floridas,
como um vento que não tem horizonte definido!
Carregados de perfume e de brancura,
sejamos os audazes caminheiros de todos os rumos e de todos os ritmos,
enfim, senhores dos dias e dos nossos corpos!
Solta o teu cabelo e contempla-me:
não sentes o bater do meu sangue nas tuas veias,
e os lábios nos meus, sequiosos e ardentes?
Porquê então o laço nupcial, a aliança e a data memorável,
as certidões de idade, os brindes e as flores convencionais,
se tudo isso está simplesmente incluso
no nosso passeio pela rua de braço dado,
mudos, em contemplação recíproca,
unidos por dias e árvores,
presos em constelações, lábios e corpos,
ligados a lágrimas, noites de desespero e baladas saudosas?
In “ÁRVORE ”
Folhas de Poesia
1.º Fascículo - Inverno de 1951-52
Pág. 108
Rogério Fernandes
(1933-2010)
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