SONETO DA CONQUISTA
Ó grandes cavaleiros afonsinos,
bailando no terreiro da capela,
deixai moças da Maia e verdes pinos,
que é tempo agora de saltar p'ra sela!
E rompe a galopada ao som dos sinos,
– e galga matagais que a morte gela…
Os que tornarem, graves peregrinos,
irão depois em voto a Compostela.
"Por Santiago!" – E a terra se dilata.
O Tejo na distancia é como prata,
a cuja orla a hoste se detem.
Brilha o sinal de Christo sobre os peitos.
E os cavaleiros, sempre insatisfeitos,
voltam scismando no que está p'ra além…
In “Contemporanea”
Director – José Pacheco
Redactor Principal – Oliveira Mouta
Editor – Agostinho Fernandes
Ano I – Volume II – Nº.6 - Ano 1922
Pág. 133
António Sardinha
1887 – 1925
Mantém a grafia original
DEUS NA PLANÍCIE
O espírito de Deus flutua e erra
por todo este côncavo profundo.
Assim errava Ele sobre a terra
quando pensou na criação do Mundo.
É noite. Aqui não há mar nem serra.
Há o infinito, o vago. E cá no fundo
minh'alma que se excede e que se aterra,
ó Hálito-Supremo em que eu me inundo!
Ó Hálito-Supremo!... É noite escura.
E o Criador no enlevo em que eu me alago
domina e empolga a Sua criatura.
Sucumbe em mim o bicho vil da terra
E como no Princípio sobre o vago
O Espírito de Deus flutua e erra.
In “Epopeia da Planície” – 1915
António Sardinha
1887 – 1925
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