A ETERNA AUSÊNCIA
Eu aguardei com lágrimas e o vento
suavizando o meu instinto aberto
no fumo do cigarro ou na alegria das aves
o surgimento anónimo no grande cais da vida
desse navio nocturno
que me trazia aquela com lábios evidentes
e possuindo um perfil indubitável,
mulher com dedos religiosos
e braços espirituais...
Aquela mulher-pirâmide
com chamas pelo corpo
e gritos silenciosos nas pupilas.
Amante que não veio como a noite prometera
numa suspensa nuvem acordar
meu coração de carne e alguma cinza...
Amante que ficou não sei aonde
a castigar meus dias involúveis
ou a afogar meu sexo na caveira
deste carnal desespero!...
In "A Flor e a Noite" (1955)
António Salvado
(N. 1936)
DEIXASTE PASSAR...
Deixaste passar o tempo
(o fruto foi recolhido)
e as semeadas sementes
já não criaram raízes.
Alguns rebentos havidos
não foram mais que rebentos
impossíveis novos dias
e revividos momentos.
E é tarde p'ra outra vida
em terra fértil plantada
e com esp'rança de nascer:
uvas que nela surgidas
teriam um sabor ácido
e seriam sempre verdes.
In. "Auras do Egeu" - Out/2011
Ed. Fólio Exemplar
António Salvado
N. 1936
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