SAUDADE DO TEU CORPO
Tenho saudades do teu corpo: ouviste
correr-te toda a carne e toda a alma
o meu desejo – como um anjo triste
que enlaça nuvens pela noite calma?...
Anda a saudade do teu corpo (sentes?...)
Sempre comigo: deita-se ao meu lado,
dizendo e redizendo que não mentes
quando me escreves: «vem, meu todo amado...»
É o teu corpo em sombra esta saudade...
Beijo-lhe as mãos, os pés, os seios-sombra:
a luz do seu olhar é escuridade...
Fecho os olhos ao sol para estar contigo.
É de noite este corpo que me assombra...
Vês?! A saudade é um escultor antigo!
In “Poesia Completa”
Assírio e Alvim - 1989
António Patrício
(1878-1930)
A NEVE
Feérica nupcial! A neve, a neve,
alegríssimamente vai caindo.
A nossa dor é um elfo que nos segue:
tudo cristalizou num riso lindo.
Lembra um conto de fadas a paisagem:
jardins e parques, casas, estão dormindo;
e no seu sonho, pueril miragem,
a neve vai caindo, vai caindo.
Mas que jardins se esfolham pela altura? …
É a espuma dum mar pr’álem das nuvens
ou um Outono místico de alvura? …
É um Abril de pureza: – é lindo, lindo,
sinto-me estonteado de brancura:
os mortos mesmo devem estar sorrindo.
In “Poesias Completas”
Assírio & Alvim – 1989
António Patrício
1878 – 1930
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