A QUINTA DA PANASQUEIRA
Mote
Fui apalpar as gamboas
que a quinteira tem na quinta,
já tem marmelos maduros,
o seu bastardo já pinta.
Glosa
Sou mestre na agricultura,
meu saber ninguém disputa,
gosto de apalpar a fruta
quando está quase madura…
Gosto do que tem doçura;
quero e gosto das mais pessoas
para apalpar coisas boas
da quinta da Panasqueira,
com licença da quinteira,
fui apalpar as gamboas.
Por toda a parte que andei
dei cambalhotas e saltos,
depois de apalpar pêlos altos
pêlos baixos apalpei.
Por toda a parte encontrei
fruta branca e fruta tinta;
para que a dona não se sinta
nunca direi mal da boda,
apalpei a fruta toda
que a quinteira tem na quinta.
Neste tão lindo arvoredo
não há fruta como a sua,
foi criada em boa lua
para amadurecer mais cedo.
Menina, não tenha medo
que os seus frutos estão seguros,
ou sejam moles ou duros
todos a têm em estima,
na sua quinta de cima
já tem marmelos maduros.
Tem uma árvore escondida
Num regato ao pé de um poço,
que dá fruta sem caroço
chamada gostos da vida.
Dessa fruta pretendida
que a menina tem na quinta,
se acaso tem uva tinta
a menina dê-me um cacho,
que na sua quinta de baixo
o seu bastardo já pinta.
In “Antologia de Poesia Erótica e Satírica Portuguesa”
Selecção, prefácio e notas de Natália Correia
5ª Edição - 2008
Antígona - Frenesi
António Maria Eusébio
(1819 – 1911)
Também conhecido por “Calafate” ou o “Cantador de Setúbal”
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