Quarta-feira, 1 de Setembro de 2021

Recordando... António Feijó

O LIVRO DA VIDA

 

Absorto, o Sabio antigo, estranho a tudo, lia...

– Lia o «Livro da Vida»,– herança inesperada,

Que ao nascer encontrou, quando os olhos abria

Ao primeiro clarão da primeira alvorada.

 

Perto d'elle caminha, em ruidoso tumulto,

Todo o humano tropel num clamor ululando,

Sem que de sobre o Livro erga o seu magro vulto,

Lentamente, e uma a uma, as suas folhas voltando.

 

Passa o estio, a cantar; accumulam-se invernos;

E elle sempre, – inclinada a dorida cabeça, –

A ler e a meditar postulados eternos,

Sem um fanal que o seu espirito esclareça!

 

Cada pagina abrange um estádio da Vida,

Cujo eterno segredo e alcance transcendente

Elle tenta arrancar da folha percorrida,

Como de mina obscura a pedra refulgente.

 

Mas o tempo caminha; os annos vão correndo;

Passam as gerações; tudo é pó, tudo é vão...

E elle sem descansar, sempre o seu Livro lendo!

E sempre a mesma névoa, a mesma escuridão.

 

Nesse eterno scismar, nada vê, nada escuta:

Nem o tempo a dobar os seus annos mais bellos,

Nem o humano soffrer, que outras almas enluta,

Nem a neve do inverno a pratear-lhe os cabellos!

 

Só depois de voltada a folha derradeira,

Já próximo do fim, sobre o livro, alquebrado,

É que o Sábio entreviu, como numa clareira,

A luz que illuminou todo o caminho andado...

 

Juventude, manhãs d'Abril, boccas floridas,

Amor, vozes do Lar, éstos do Sentimento,

– Tudo viu num relance em imagens perdidas,

Muito longe, e a carpir, como em nocturno vento.

 

Mas então, lamentando o seu esteril zêlo,

Quando viu, a essa luz que um instante brilhou,

Como o Livro era bom, como era bom relê-lo,

Sobre elle, para sempre, os seus olhos cerrou...

 

(mantém a grafia original)

 

In “Sol de Inverno”   

Editora Aillaud & Bertrand

 

António Feijó

(1859-1917)

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Sábado, 7 de Novembro de 2020

Recordando... António Feijó

CISNE BRANCO

 

Cisne branco, esquecido a sonhar no alto Norte,

Vendo-se, ao despertar, das neves prisioneiro,

Ergue os olhos ao céu, enublados de morte,

Mas o sol já não vem romper-lhe o cativeiro.

 

O gelo, no lençol todo imóvel das ondas,

Em que a aurora boreal põe reflexos de brasas,

Deslumbra-lhe um momento as pupilas redondas,

Dá-lhe a ilusão do sol, mas não lhe solta as asas.

 

Vê que o torpor do frio o invade lentamente;

Debate-se, procura o cárcere romper;

Mas a asa é de arminho, o gelo é resistente:

Tem as penas em sangue e sente-se morrer.

 

Então põe-se a cantar sem que ninguém o escute;

Solta gritos de dor em que lhe foge a vida;

Mas essa dor, se ao longe um eco a repercute,

Parece uma canção no silêncio perdida…

 

Melodia que a voz da Saudade acompanha,

Amarga e triste como o exílio onde agoniza,

Longe do claro sol que outras paisagens banha,

Dos rios e do mar que outra alvorada irisa.

 

Voz convulsa a chorar perdidas maravilhas:

– Tardes ocidentais de sanguínea e laranja,

Noites de claro céu, como um mar cheio de ilhas,

Manhãs de seda azul que o sol tece e desfranja!

 

Mas ao longe, à distância onde a leva a Saudade,

Tão esbatida vai essa triste canção,

Que não desperta já comoção nem piedade:

Encanta o ouvido, mas não chega ao coração.

 

E o Cisne, abandonado ao seu destino, expira,

Alucinado e só, sob o silêncio agreste,

Pensando que no azul, como um mar de safira,

Os astros a luzir são a geada celeste…

 

In “Sol de Inverno”

INCM – Imprensa Nacional Casa da Moeda

 

António Feijó

(1859-1917)

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Quinta-feira, 31 de Outubro de 2019

Recordando... António Feijó

HYMNO Á ALEGRIA

 

(A Carlos Malheiro Dias)

 

 

Tenho-a visto passar, cantando, á minha porta,

E ás vezes, bruscamente, invadir o meu lar,

Sentar-se á minha mesa, e a sorrir, meia morta,

Deitar-se no meu leito e o meu somno embalar.

 

Tumultuosa, nos seus caprichos desenvoltos,

Quasi meiga, apesar do seu riso constante,

D'olhos a arder, labios em flor, cabellos soltos,

A um tempo é cortesã, deusa ingenua ou bachante...

 

Quando ella passa, a luz dos seus olhos deslumbra;

Tem como o sol d'inverno um brilho encantador;

Mas o brilho é fugaz, – scintilla na penumbra,

Sem que d'elle irradie um facho creador.

 

Quando menos se espera, irrompe d'improviso;

Mas foge-nos tambem com uma presteza egual;

E d'ella apenas fica um pállido sorriso

Traduzindo o desdem d'uma illusão banal.

 

Onda mansa que só á superficie corre,

Toda a alegria é vã; só a Dor é fecunda!

A Dor é a Inspiração, louro que nunca morre,

Se em nós crava a raiz exhaustiva e profunda!

 

No entanto, eu te saudo e louvo, hora dourada,

Em que a Alegria vem extinguir, de surpresa,

Como chuva a cair numa planta abrasada,

A fornalha em que a Dor se transmuta em Belleza!

 

Pensar, é certo, eleva o espirito mais alto;

Soffrer torna melhor o coração; depura

Como um crysol: a chispa irrompe do basalto,

Sae o oiro em fusão da escoria mais impura.

 

A Alegria é fallaz; só quem soffre não erra,

Se a Dor o eleva a Deus, na palavra que o louve;

A Alma, na oração, desprende-se da terra;

Jamais o homem é vão deante de Deus que o ouve!

 

E comtudo, – illusão! – basta  que ella sorria,

Basta vê-la de longe, um momento, a acenar,

Vamos logo em tropel, no capricho do dia,

Como ébrios, Evohé! atrás d'ella a cantar!

 

Mas se ella, de repente, ao nosso olhar se furta,

Todo o seu brilho é pó que anda no sol disperso;

A Alegria perfeita é uma aurora tão curta,

Que mal chega a doirar as cortinas do berço.

 

Ás vezes, essa luz de tão fragil encanto,

Vem ainda banhar certas horas da Vida,

Como um iris de paz numa névoa de pranto,

Crepitação, fulgor d'uma estrella perdida.

 

Então, no resplendor d'essa aurora bemdita,

Toma corpo a illusão, e sem áncias, sem penas,

O espirito remoça, o coração palpita,

Seja a nossa alma embora uma saudade apenas!

 

Mas ephémera ou vã, a Alegria... que importa?

Deusa ingenua ou bachante, o seu riso clemente,

Quando, mesmo de longe, echôa á nossa porta,

Deixa em louco alvoroço o coração da gente!

 

Momentánea ou fallaz, é sempre um dom divino,

Sol que um instante vem a nossa alma aquecer...

Podesse eu celebrar teu louvor no meu Hymno!

Momentáneo, fallaz encanto de viver!

 

O teu sorriso enxuga o pranto que choramos,

E eu não sei traduzir a ventura que exprimes!

Nesta sentimental lingua que nós falamos,

Só a Dor e a Paixão têm accordes sublimes!

 

(Mantem a grafia original)

 

In “Sol de Inverno”

 

António Feijó

(1859-1917)

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Quinta-feira, 1 de Dezembro de 2016

Recordando... António Feijó

PRINCESA ENCANTADA

 

Formosa Princesa dormia ha cem annos;

Dormia ou sonhava... Ninguem o sabia.

Passavam-se os dias, passavam-se os annos,

E a linda Princesa dormia, dormia,

Dormia ha cem annos!

 

Em torno, sentadas, dormiam as Damas,

Cobertas de joias, cobertas de lhamas;

 

Com formas e aspectos de finas imagens,

Esbeltos e loiros, dormiam os pagens.

 

E ás portas de bronze, por terra halabardas,

Num somno profundo dormiam os guardas.

 

Lá fóra, na sombra dos parques discretos,

Nem aves gorgeiam, nem zumbem insectos.

 

As arvores sonham, na sombra dos poentes,

Immoveis, á beira dos lagos dormentes.

 

E as fontes que d'antes sonoras gemiam,

Somnambulas mudas, apenas corriam...

 

Um dia, de longe, de terras distantes,

Com pagens, arautos, donzeis, passavantes,

 

Bandeiras ao vento, clarins, atabales,

Echoando a distancia por montes e valles,

 

– Um principe, herdeiro d'um throno potente,

Com olhos suaves d'aurora nascente,

 

Excelso e formoso, magnanimo e moço,

– Correndo aventuras, num grande alvoroço,

 

Chegou ao Castello, que ha tanto dormia,

Como uma alvorada, prenuncia do dia...

 

E ao ver a princesa, sentada em seu throno,

N'aquelle profundo, extactico somno,

 

Tomado d'estranha, indizivel surpresa,

Na boca entreaberta da linda Princesa,

 

Tremendo e sorrindo, seu labio collou-se

N'um beijo, que ao labio a alma lhe trouxe.

 

Accorda a Princesa; despertam as Damas,

As faces ardentes, os olhos em chamas.

 

Despertam os Pagens, nos seus escabellos,

Com halos de fogo nos loiros cabellos.

 

Accordam os guardas; e, tudo desperto,

A vida renasce no parque deserto.

 

Suspiram as fontes; gorgeiam as aves,

Das áleas profundas nas sombras suaves.

 

As arvores tremem, no ar transparente,

Á brisa que sopra, como halito ardente.

 

Nas torres, os sinos repicam de festa;

O povo em choreias enchia a floresta...

 

E a linda Princesa, seus olhos fitando

No Principe excelso, sorrindo e còrando,

 

– «Sonhava comtigo...» Porque é que tardaste?

Mas já nesse instante, formando contraste,

 

Quando isto dizia, erguendo-se a medo,

A voz parecia trahir o segredo

 

De quem, num relance, talvez lamentasse

Que sonho tão lindo tão cedo acabasse!...

 

A linda Princesa sonhava ha cem annos,

E fóra do Sonho só há desenganos...

 

[mantém a grafia original]

 

In “Sol de Inverno”

Livrarias Aillaud e Bertrand - 1922

 

António Feijó

(1859-1917)

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Quinta-feira, 7 de Julho de 2016

Recordando... António Feijó

HINO À BELEZA

 

Onde quer que o fulgor da tua glória apareça,

– Obra de génio, flor d’heroísmo ou santidade,

Da Gioconda imortal na radiosa cabeça,

Num acto de grandeza augusta ou de bondade,

 

– Como um pagão subindo à Acrópole sagrada,

Vou de joelhos render-te o meu culto piedoso,

Ou seja o Herói que leva uma aurora na Espada,

Ou o Santo beijando as chagas do Leproso.

 

Essa luz sem igual com que sempre iluminas

Tudo o que existe em nós de grande e puro, veio

Do mesmo foco em mil parábolas divinas:

– Raios do mesmo olhar, ânsias do mesmo seio.

 

Alta revelação que, baixando em segredo,

O prisma humano quebra em ângulos dispersos,

Como a água a cair de rochedo em rochedo

Repete o mesmo som, mas em modos diversos.

 

É audácia no Herói; resignação no Santo;

Som e Cor, ondulando em formas imortais;

No mármore rebelde abre em folhas de acanto,

E esmalta de candura a flora dos vitrais.

 

Oh Beleza! Oh Beleza! as Horas fugitivas

Passam diante de ti, aladas como sonhos...

Que importa onde elas vão, doutra força cativas,

Se o Infinito luz nos teus olhos risonhos?!

 

Abrem flores, cantando, ao teu hálito ardente,

Brilham as aves como estrelas, e as estrelas,

Como flores enchendo a noite refulgente,

Deixam-se resvalar sobre quem vai colhê-las...

 

És tu que às ilusões dás juventude e forma,

Tu, que talvez do céu, d’onde vens, te recordes

Quando, a ouvir-nos chorar, a tua voz transforma

Dissonâncias de dor em imortais acordes.

 

Vejo-te muita vez, – luz d’aurora ou de raio, –

Como um gládio de fogo a avançar no horizonte;

Ou então, em manhãs transparentes de maio,

Náiade toda nua a fugir d’uma fonte.

 

Outras vezes, de noite e a ocultas, apareces,

Como ovelha que Deus do seu redil tresmalha,

Trazendo no regaço inesgotáveis messes,

Que Ele por tuas mãos sobre a miséria espalha...

 

Pudesse eu revelar-te em estrofes aladas,

Que partissem ao sol refulgindo em lavores,

Com rimas d’oiro, em blau e púrpura engastadas,

Como versos que vão desabrochando em flores!

 

Mas a língua não é sumptuosa bastante

Para nela deixar teu génio circunscrito;

Trago-te dentro em mim, sinto-te a cada instante,

E a voz nem mesmo tem a eloquência d’um grito!

 

Mas se para o teu culto, em esplendor externo,

Não encontro uma prece altamente expressiva,

Por ti meu coração arde d’um fogo eterno,

Como chama a tremer de lâmpada votiva!

 

In “Sol de Inverno”

 

António Feijó

(1859-1917)

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Sábado, 25 de Abril de 2015

Recordando... António Feijó

O AMOR E O TEMPO

 

Pela montanha alcantilada

Todos quatro em alegre companhia,

O Amor, o Tempo, a minha Amada

E eu subíamos um dia.

 

Da minha Amada no gentil semblante

Já se viam indícios de cansaço;

O Amor passava-nos adiante

E o Tempo acelerava o passo.

 

— «Amor! Amor! mais devagar!

Não corras tanto assim, que tão ligeira

Não corras tanto assim, que tão ligeira

Não pode com certeza caminhar

A minha doce companheira!»

 

— Súbito, o Amor e o Tempo, combinados,

Abrem as asas trémulas ao vento...

— «Por que voais assim tão apressados?

Onde vos dirigis?» — Nesse momento.

 

Volta-se o Amor e diz com azedume:

— «Tende paciência, amigos meus!

Eu sempre tive este costume

De fugir com o Tempo... Adeus! Adeus!»

 

In “Sol de Inverno seguido de Vinte Poesias Inéditas”,

Introd., bibliog. e notas de Álvaro Manuel Machado

INCM - Imprensa Nacional

 

António Feijó

(1859-1917)

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Terça-feira, 19 de Agosto de 2014

Recordando... António Feijó

O AMOR E O TEMPO

 

Pela montanha alcantilada

Todos quatro em alegre companhia,

O Amor, o Tempo, a minha Amada

E eu subíamos um dia.

 

Da minha Amada no gentil semblante

Já se viam indícios de cansaço;

O Amor passava-nos adiante

E o Tempo acelerava o passo.

 

– «Amor! Amor! mais devagar!

Não corras tanto assim, que tão ligeira

Não pode com certeza caminhar

A minha doce companheira!»

 

Súbito, o Amor e o Tempo, combinados,

Abrem as asas trémulas ao vento...

– «Por que voais assim tão apressados?

Onde vos dirigis?» – Nesse momento.

 

Volta-se o Amor e diz com azedume:

– «Tende paciência, amigos meus!

Eu sempre tive este costume

De fugir com o Tempo... Adeus! Adeus!»

 

In “Sol de Inverno”

Biblioteca de Autores Portugueses

INCM - Imprensa Nacional – 1966

 

António Feijó

1859 – 1917

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Segunda-feira, 25 de Fevereiro de 2013

Recordando... António Feijó

EU E TU

 

Dois! Eu e Tu, num ser indissolúvel! Como

Brasa e carvão, centelha e lume, oceano e areia,

Aspiram a formar um todo, – em cada assomo

A nossa aspiração mais violenta se ateia...

 

Como a onda e o vento, a lua e a noite, o orvalho e a selva,

– O vento erguendo a vaga, o luar doirando a noite,

Ou o orvalho inundando as verduras da relva –

Cheio de ti, meu ser d’eflúvios impregnou-te!

 

Como o lilás e a terra onde nasce e floresce,

O bosque e o vendaval desgrenhando o arvoredo,

O vinho e a sede, o vinho onde tudo se esquece,

– Nós dois, d'amor enchendo a noite do degredo,

 

Como parte dum todo, em amplexos supremos

Fundindo os corações no ardor que nos inflama,

Para sempre um ao outro, Eu e Tu pertencemos,

Como se eu fosse o lume e tu fosses a chama.

 

 

In “Sol de Inverno”

Edição de ?

Publicado em 1922

 

António Feijó

1859 – 1917

 

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Domingo, 17 de Abril de 2011

Recordando... António Feijó

CABELLOS BRANCOS

 

Não repares na cor dos meus cabellos

Sem ler primeiro Anacreonte;

Verás que os sonhos juvenis, mais bellos,

Tambem se evolam d'enrugada fronte.

 

O espirito do Poeta é sempre moço;

O Coração nunca envelhece...

Basta um sorriso, um nada, um alvoroço,

E tudo nelle se illumina e aquece.

 

Deusas d'eterna graça adolescente,

Jamais as Musas desdenharam

Da luz que treme incendiando o poente,

Dos rouxinoes que ao pôr do sol cantaram.

 

Fina e fragil vergontea melindrosa,

Que foi na ceifa abandonada,

Ruth, apesar de moça e de formosa,

Nos braços de Booz dorme encantada.

 

Quantas flores d'inédita fragrancia

Em mãos provectas vão abrindo...

Abisag, ao sair quasi da infancia,

No leito de David entrou sorrindo.

 

E d'esse beijo, inverno e primavera,

D'esse connubio, oh maravilha!

Como se a ruina fecundasse a hera,

Veio á luz uma estrella, que ainda brilha.

 

Esculpturaes patricias, d'olhos ledos,

Quem as lembrara, se deixassem

Que mãos obscuras, mercenários dedos,

A velhice d'Horacio engrinaldassem?

 

Quantos nomes illustres! quantos casos!

Mas que direi mais eloquente?

Não ha dias tão pallidos, e occasos

Como explosões d'uma cratera ardente?

 

Não repares na côr dos meus cabellos;

A branda luz que nelles arde,

Como o poente, das nuvens faz castellos,

Tinge d'alva o crepusculo da tarde...

 

Muita vez os cabellos embranquecem

Na dor d'horriveis soffrimentos...

Não são os annos que nos envelhecem;

«São certas horas más, certos momentos...»

 

 

In “Sol de Inverno”

Livrarias Aillaud E Bertrand – 1922

 

António Feijó

1859 – 1917

 

MANTEM A GRAFIA ORIGINAL

 

 

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Sexta-feira, 9 de Julho de 2010

Recordando... António Feijó

NOITE PERDIDA

 

Coitado do Rouxinol!

 

Passou a noite ao relento,

Do pôr ao nascer do Sol,

Sem descansar um momento,

Sempre a cantar, sem dormir,

Absorto no pensamento

De ver uma Rosa a abrir...

 

Coitado do Rouxinol!

 

Passou a noite ao relento,

Do pôr ao nascer do Sol,

Sempre a cantar, sem dormir...

Mas o mísero – coitado!

Cantando tão requebrado,

Com tal cuidado velou,

Que adormeceu de cansado,

E os olhos tristes cerrou

No minuto, no momento

Em que ao luar e ao relento

A Rosa desabrochou...

 

Coitado do Rouxinol!

 

Com tal cuidado velou

Do pôr ao nascer do Sol,

E tanto, tanto cantou,

A noite inteira ao relento,

Que de fadiga e tormento,

Sem descansar, sem dormir,

Fecha os olhos, perde o alento

No minuto, no momento

Em que a Rosa vai abrir...

 

Coitado do Rouxinol!

 

 

 

In “Leituras”

2º Tomo – 1ª Edição

Tip. Silvas, Lda.

 

António Feijó

1859 – 1917

 

 

 

 

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