A UMA AUSÊNCIA
Sinto-me sem sentir, todo abrasado
No rigoroso fogo que me alenta;
O mal, que me consome, me sustenta;
O bem, que me entretém, me dá cuidado;
Ando sem me mover, falo calado;
O que mais perto vejo se me ausenta
E o que estou sem ver mais me atormenta;
Alegro-me de ver-me atormentado;
Choro no mesmo ponto em que me rio;
No mor risco me anima a confiança;
Do que menos se espera estou mais certo;
Mas se, de confiado, desconfio,
É porque, entre os receios da mudança,
Ando perdido em mim como em deserto.
Fénix Renascida
In “Breve Antologia Poética do Período Barroco”
Colecção Brevíssima
Liv. Civilização Editora e Contexto Editora
António Barbosa Bacelar
(1610-1663)
A UMAS SAUDADES
Saudades de meu bem, que noite e dia
A alma atormentais, se é vosso intento
Acabares-me a vida com tormento,
Mais lisonja será, que tirania.
Mas quando me matar vossa porfia,
De morrer tenho tal contentamento,
Que em me matando vosso sentimento,
Me há-de ressuscitar minha alegria.
Porém matai-me embora, que pretendo
Satisfazer com mortes repetidas
O que à beleza sua estou devendo.
Vidas me dai para tirar-me vidas,
Que ao grande gosto, com que as for perdendo
Serão todas as mortes bem devidas.
Fénix Renascida II
In “Breve Antologia Poética do Período Barroco”
Livª. Civilização Editora – Porto e Contexto Editora – Lisboa
António Barbosa Bacelar
1610 – 1663
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