METAMORFOSE
Mulher de corpo de lezíria
de pálpebras iluminadas
minha caixa de vitrais
cheia de fogos-fátuos
minha fonte de pedrarias
meus cisne
Mulher no inferno cercada de antílopes fumegantes
estátua de ferro em brasa
até ao joelho na lava
Mulher minha loucura bordada a tinta de escrever
meu túnel de humidade minha cratera de cio
nome de roseira
nome de carpa
nome de canoa oceânica minha constelação
minha estrela sombria cor de cereja
caída do outono para a boca minha
Mulher
meu riso de água potável minha cascata de leite
minha gaivota de camisola branca minha febre
meu violino com as pupilas em chamas
Mulher à chuva envolta num lençol de vinho
apanhando um a um
os cães de patas trémulas e latidos de ave
os cães torrões de açúcar de língua de rubi
os cães de olhos de bondade
no alcatrão junto dos pés de trigo de Gina
minha colher de pétalas na chávena de búzio
meu substantivo meu advérbio de café
numa plantação de tabaco
meu pântano de arroz transparente
minha vela de estai no Cabo Horn
minha Mulher de tentáculos minha tainha
minha savana meu plágio de Vénus
na boca um do outro é que morremos
meu Amor
minha porta de neve com fechaduras quentes
minha cabra de safira
minha Mãe
Impressões Digitais – Edição do autor
In “O Surrealismo na Poesia Portuguesa”
Org., pref. e notas de Natália Correia
Publicações Europa-América, 1973
António Barahona da Fonseca
N. 1939
. Mais poesia em
. Eu li...
. Recordando... António Bar...