Quarta-feira, 7 de Julho de 2021

Recordando... António Aleixo

QUADRAS

 

Acho uma moral ruim

trazer o vulgo enganado:

mandarem fazer assim

e eles fazerem assado.

 

Sou um dos membros malditos

dessa falsa sociedade

que, baseada nos mitos,

pode roubar à vontade.

 

Esses por quem não te interessas

produzem quanto consomes:

vivem das tuas promessas

ganhando o pão que tu comes.

 

Não me dêem mais desgostos

porque sei raciocinar...

Só os burros estão dispostos

a sofrer sem protestar!

 

Esta mascarada enorme

com que o mundo nos aldraba,

dura enquanto o povo dorme,

quando ele acordar, acaba.

 

In “Este livro que vos deixo”

 

António Aleixo

(1899-1949)

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | favorito
Segunda-feira, 19 de Outubro de 2020

Recordando... António Aleixo

SER DOIDO-ALEGRE, QUE MAIOR VENTURA!

 

Ser doido-alegre, que maior ventura!

Morrer vivendo p'ra além da verdade.

É tão feliz quem goza tal loucura

Que nem na morte crê, que felicidade!

 

Encara, rindo, a vida que o tortura,

Sem ver na esmola, a falsa caridade,

Que bem no fundo é só vaidade pura,

Se acaso houver pureza na vaidade.

 

Já que não tenho, tal como preciso,

A felicidade que esse doido tem

De ver no purgatório um paraíso...

 

Direi, ao contemplar o seu sorriso,

Ai quem me dera ser doido também

P'ra suportar melhor quem tem juízo.

 

In “Este Livro Que Vos Deixo…”

Editorial Notícias

 

António Aleixo

(1899-1949)

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | favorito
Quinta-feira, 13 de Setembro de 2012

Recordando... António Aleixo

 

MOTE

 

Fui uma noite pintar

Com um caneco emprestado;

Eu pintei sem reparar,

Pintei e fiquei pintado.

 

GLOSAS

 

Eu comecei com jeitinho

A compor o ramalhete;

Primeiro foi com azeite

E depois foi com cuspinho.

No começo era estreitinho,

Custava o pincel a entrar...

Começa a dona a gritar:

"Não me parta a tigelinha",

Mas que coisa engraçadinha,

Fui uma noite pintar...

 

Comecei devagarinho...

Quando fui ao outro mundo

Meti o pincel ao fundo

E parti o canequinho.

Até mesmo o pincelinho

Veio de lá todo pintado,

Eu já estava desmaiado,

Perdendo as cores do rosto;

Mas pintei com muito gosto

Com um caneco emprestado.

 

Vem a mãe toda zangada:

"Tem que pagar-me a vasilha...

No caneco da minha filha

Não pinta você mais nada...

... Lá isto, a moça deitada,

Sem poder levantar-se,

Com tanta tinta a pingar

No lugar da rachadela!..."

"Diga lá, que desculpe ela,

Eu pintei sem reparar!"...

 

Pra que vejam que sou pintor

E meu pincel nunca deixo;

Pra que saibam que o Aleixo

Não é somente cantor...

Também pinto qualquer flor

E faço qualquer bordado;

Mas aqui o ano passado,

Perdi, de pintar, o tino...

Fui pintar, fiz um menino,

Pintei e fiquei pintado.

 

 

In "Este Livro que Vos Deixo..." – Inéditos 

Volume II – 3ª edição

Editorial Notícias

António Aleixo

1899 – 1949  

 

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | favorito
Quarta-feira, 25 de Julho de 2012

Recordando... António Aleixo

QUADRAS II

 

Peço às altas competências

Perdão, porque mal sei ler,

P'ra aquelas deficiências

Que os meus versos possam ter.

………………………….

Quando não tenhas à mão

Outro livro mais distinto,

Lê estes versos que são

Filhos das mágoas que sinto.

………………………….

Julgam-me mal sabedor;

E é tão grande o meu saber

Que desconheço o valor

Das quadras que sei fazer!

………………………….

Compreendo que envelheci

E que já daqui não passo,

Como não passam daqui

As pobres quadras que faço.

………………………….

Tal qual me sucede a mim;

Sem ter vulto, sem ter voz,

Vive qualquer coisa em nós

Que manda fazer assim.

………………………….

Vai-se uma luz, outra existe,

Nova aurora nos seduz;

Deve ser muito mais triste

A gente deixar a luz.

………………………….

Se pedir, peço cantando,

Sou mais atendido assim;

Porque, se pedir chorando,

Ninguém tem pena de mim.

…………………………..

Meu aspecto te enganou;

O que a gente é não se vê;

Pergunta a outrem quem sou,

Pois o que sou nem eu sei.

………………………….

Quem me vê dirá: não presta,

Nem mesmo quando lhe fale,

Porque ninguém traz na testa

O selo de quanto vale

………………………….

 

In “Este Livro Que Vos Deixo…”

Volume I – Editorial Notícias

 

António Aleixo

1899 – 1949 

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | favorito
Terça-feira, 31 de Maio de 2011

Recordando... António Aleixo

MOTE

Tu és pura e imaculada,
Cheia de graça e beleza;
Tu és a flor minha amada,
És a gentil camponesa.

GLOSAS

És tu que não tens maldade,
És tu que tudo mereces,
És, sim, porque desconheces
As podridões da cidade.
Vives aí nessa herdade,
Onde tu foste criada,
Aí vives desviada
Deste viver de ilusão:
És como a rosa em botão,
Tu és pura e imaculada.

És tu que ao romper da aurora
Ouves o cantor alado...
Vestes-te, tratas do gado
Que há-de ir tirar água à nora;
Depois, pelos campos fora,
É grande a tua pureza,
Cantando com singeleza,
O que ainda mais te realça,
Exposta ao sol e descalça,
Cheia de graça e beleza.

Teus lábios nunca pintaste,
És linda sem tal veneno;
Toda tu cheiras a feno
Do campo onde trabalhaste;
És verdadeiro contraste
Com a tal flor delicada
Que só por muito pintada
Nos poderá parecer bela;
Mas tu brilhas mais do que ela,
Tu és a flor minha amada.

Pois se te tenho na mão,
Inda assim acho tão pouco,
Que sinto um desejo louco:
Guardar-te no coração!...
As coisas mais belas são
Como as cria a Natureza,
E tu tens toda a grandeza
Dessa beleza que almejo,
Tens tudo quanto desejo,
És a gentil camponesa

 

In "Este Livro que Vos Deixo..." – Inéditos 

Volume II – 3ª edição

Editorial Notícias

António Aleixo

1899 – 1949  

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | favorito

.Eu

.pesquisar

 

.Março 2024

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
14
15
16
17
18
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31

.Ano XVI

.posts recentes

. Recordando... António Ale...

. Recordando... António Ale...

. Recordando... António Ale...

. Recordando... António Ale...

. Recordando... António Ale...

.arquivos

. Março 2024

. Fevereiro 2024

. Janeiro 2024

. Dezembro 2023

. Novembro 2023

. Outubro 2023

. Setembro 2023

. Agosto 2023

. Julho 2023

. Junho 2023

. Maio 2023

. Abril 2023

. Março 2023

. Fevereiro 2023

. Janeiro 2023

. Dezembro 2022

. Novembro 2022

. Outubro 2022

. Setembro 2022

. Agosto 2022

. Julho 2022

. Junho 2022

. Maio 2022

. Abril 2022

. Março 2022

. Fevereiro 2022

. Janeiro 2022

. Dezembro 2021

. Novembro 2021

. Outubro 2021

. Setembro 2021

. Agosto 2021

. Julho 2021

. Junho 2021

. Maio 2021

. Abril 2021

. Março 2021

. Fevereiro 2021

. Janeiro 2021

. Dezembro 2020

. Novembro 2020

. Outubro 2020

. Setembro 2020

. Agosto 2020

. Julho 2020

. Junho 2020

. Maio 2020

. Abril 2020

. Março 2020

. Fevereiro 2020

. Janeiro 2020

. Dezembro 2019

. Novembro 2019

. Outubro 2019

. Setembro 2019

. Agosto 2019

. Julho 2019

. Junho 2019

. Maio 2019

. Abril 2019

. Março 2019

. Fevereiro 2019

. Janeiro 2019

. Dezembro 2018

. Novembro 2018

. Outubro 2018

. Setembro 2018

. Agosto 2018

. Julho 2018

. Junho 2018

. Maio 2018

. Abril 2018

. Março 2018

. Fevereiro 2018

. Janeiro 2018

. Dezembro 2017

. Novembro 2017

. Outubro 2017

. Setembro 2017

. Agosto 2017

. Julho 2017

. Junho 2017

. Maio 2017

. Abril 2017

. Março 2017

. Fevereiro 2017

. Janeiro 2017

. Dezembro 2016

. Novembro 2016

. Outubro 2016

. Setembro 2016

. Agosto 2016

. Julho 2016

. Junho 2016

. Maio 2016

. Abril 2016

. Março 2016

. Fevereiro 2016

. Janeiro 2016

. Dezembro 2015

. Novembro 2015

. Outubro 2015

. Setembro 2015

. Agosto 2015

. Julho 2015

. Junho 2015

. Maio 2015

. Abril 2015

. Março 2015

. Fevereiro 2015

. Janeiro 2015

. Dezembro 2014

. Novembro 2014

. Outubro 2014

. Setembro 2014

. Agosto 2014

. Julho 2014

. Junho 2014

. Maio 2014

. Abril 2014

. Março 2014

. Fevereiro 2014

. Janeiro 2014

. Dezembro 2013

. Novembro 2013

. Outubro 2013

. Setembro 2013

. Agosto 2013

. Julho 2013

. Junho 2013

. Maio 2013

. Abril 2013

. Março 2013

. Fevereiro 2013

. Janeiro 2013

. Dezembro 2012

. Novembro 2012

. Outubro 2012

. Setembro 2012

. Agosto 2012

. Julho 2012

. Junho 2012

. Maio 2012

. Abril 2012

. Março 2012

. Fevereiro 2012

. Janeiro 2012

. Dezembro 2011

. Novembro 2011

. Outubro 2011

. Setembro 2011

. Agosto 2011

. Julho 2011

. Junho 2011

. Maio 2011

. Abril 2011

. Março 2011

. Fevereiro 2011

. Janeiro 2011

. Dezembro 2010

. Novembro 2010

. Outubro 2010

. Setembro 2010

. Agosto 2010

. Julho 2010

. Junho 2010

. Maio 2010

. Abril 2010

. Março 2010

. Fevereiro 2010

. Janeiro 2010

. Dezembro 2009

. Novembro 2009

. Outubro 2009

. Setembro 2009

. Agosto 2009

. Julho 2009

. Junho 2009

. Maio 2009

. Abril 2009

. Março 2009

. Fevereiro 2009

. Janeiro 2009

. Dezembro 2008

. Novembro 2008

. Outubro 2008

. Setembro 2008

. Agosto 2008

. Julho 2008

. Junho 2008

. Maio 2008

. Abril 2008

. Março 2008

. Fevereiro 2008

. Janeiro 2008

. Dezembro 2007

. Novembro 2007

. Outubro 2007

. Setembro 2007

. Agosto 2007

. Julho 2007

. Junho 2007

. Maio 2007

. Abril 2007

.tags

. todas as tags

blogs SAPO

.subscrever feeds