VIRGEM DO CEU!
Virgem do Ceu! E a chuva que não pára...
O vento geme e ulula ao desafio.
Anda a morte a rondar-nos... Sinto o frio
Em que a Má-Sombra às vezes se mascara.
Olhai, lá foge... És tu que vens. Sorrio.
Teu vulto apenas – ó Piedosa e Rara! –
Eterio luminoso, aquece e aclara
O tempo agreste, glacial, sombrio.
Caem do teu olhar bênçãos de Paz.
Toda a dôr, toda a magua se desfaz,
Alva açucena casta e misteriosa...
Um extasi de amor raza as montanhas,
Quando as tuas mãos sacramentais, extranhas,
Descem, pairando sobre a terra anciosa!
In “Contemporanea”
Ano I – Volume II – Nº.6 - Ano 1922
Pág. 96
Mantém a grafia original
Américo Durão
(1894-1969)
CONFIDENCIA A PIERROT
Ó Pierrot, velho simbolo cançado,
Toda a saudade em teu olhar se abriga,
E a tua voz num fremito mendiga
Ao Sonho o esquecimento do Passado!...
Irmão Pierrot, ó timido exilado,
Tambem eu ando morto de fadiga,
Minh’alma de si mesma é inimiga,
E eu choro de mim proprio fatigado.
É de mim, é de mim principalmente,
De quem eu mais quizera andar ausente,
E de quem, dia e noite, me acompanho!
Fôra eu pastor, vivesse a errar nos montes...
E perdido entre os ermos horizontes,
De mim e da minh’alma andasse extranho.
Maio 1922
In Revista “Contemporanea”
Director – José Pacheco
Redactor Principal – Oliveira Mouta
Editor – Agostinho Fernandes
Ano I – Volume I – Nº 2 – Ano 1922
Pág. 80
Américo Durão
1894 – 1969
Grafia original
A MINHA MÃE
Lembra alvuras de cisne sobre um lago,
A minha vida imaculada e honesta;
Oiço bater meu coração em festa,
Pela bondade e amor que nêle trago.
Do meu orgulho olímpico de mago,
Só o desdém aos meus inimigos resta,
Maior que às folhas mortas da floresta
Que nos meus dedos pálidos esmago.
Mas a piedade enche o meu peito e vem,
Em vez de tão humano e vil desdém,
Ungir meus lábios num perdão divino.
– Julguei ser Deus… E choro de cansaço!
Ó mãe piedosa, embala no regaço,
Meu coração exausto de menino.
In “Alma Nova” – Revista de Ressurgimento Nacional
III Série Nos. 4 a 6 Dezembro – Março 1923
Edição da Emprêsa de Arte e Publicidade “Ressurgimento”
Américo Durão
1894 – 1969
Mantém grafia original
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