A BAILADEIRA
I.
Olhou-se nos espelhos. Uma arcada…
Julgou-se Salomé. E em oração,
De João a cabeça ensanguentada
Supôs que era o seu próprio coração.
Meu olhar, de tapete lhe serviu.
No meu imaginá-la ajoelhou.
E nos seus olhos gastos refloriu
O pranto antigo que Jesus chorou.
Enamorou-se um dia de seus dedos
Tristes, esguios, mortos de segredos,
Que na cor dessas mãos inda sorriam.
E pediram-lhe o mar. E ela desceu
Entre o Sonho e o Longe e endoideceu
Por não lhes poder dar o que pediam.
In “Cem Sonetos Portugueses”
(Selecção, organização e introdução de
José Fanha e José Jorge Letria)
Terramar Editores
Alfredo Guisado
1891 – 1975
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