ENDEREÇO
Na rua onde moraste
voavam anjos,
não que eu os visse
mas sentia-se um vento diferente,
um certo aroma a cereja
que sempre acompanha os anjos.
In “Geografias Dispersas”
Editora Edita-Me
Alexandra Malheiro
(N.1972)
A QUEDA
Sobrevive-se a tudo
ou quase tudo,
ao vento assobiando nos ciprestes,
à tempestade aquartelada
nos teus olhos,
às indecisões do teu corpo.
Tudo,
ou quase tudo,
apenas à queda da magnólia
não.
Nunca nenhuma flor
sobreviveu.
In “Geografias Dispersas”
Editora Edita-Me
Alexandra Malheiro
(N.1972)
INVERSÕES
Com o Outono
uma panóplia de aves
marchou inversamente
a mim.
Eu que sempre gostei
dos inversos das coisas,
começo sempre pelo
avesso do fim.
É neste rigor
de espelhos
que me revejo.
Um inverso de alma,
uma espécie
de mim
ao contrário.
In “Geografias Dispersas”
Editora Edita-Me
Alexandra Malheiro
(N.1972)
MORTE ÀS PALAVRAS
Tantas vezes que me apetece
matar as palavras ou
ficar quieta num canto à espera
que elas me matem.
Assassiná-las à paulada
é que era bom,
arrastá-las pelos cabelos,
arrancar-lhes os olhos,
as tripas, as guelras,
uma coisa de sangue e entranhas,
desentranhá-las de mim.
Tantas vezes me apetece
romper com as palavras,
deixar de ser servil e
pô-las ao meu serviço
e cuspir-lhes nos olhos
um desaforo qualquer,
dizer-lhes bem alto
para os vizinhos ouvirem:
“Ide para a frase que vos pariu
In “Geografias Dispersas”
Editora Edita-Me
Alexandra Malheiro
(N.1972)
O INVERSO DE TI
Por um momento
tocar o inverso de ti,
a fuga e o tempo que te atrapalha,
o vento que te sacode
os ombros
e te faz voar.
Quero ser uma luz
tranquila e pequenina
a elevar-te de espanto,
a coroar no teu rosto
a angústia da
solidão.
In “Geografias Dispersas”
Editora Edita-Me
Alexandra Malheiro
(N.1972)
PELO INVERSO
Começar pelo fim,
arremeter pelo inverso,
iniciar de noite o dia,
penetrar-te o corpo pelo seu avesso,
desdobrar-te a pele,
correr os dedos por ti
em segundos de inanição
parda
a fazer de conta que não sinto,
não estou cá,
não sou eu,
este é apenas o inverso de mim,
a minha sombra
colorida apenas
da fraca luz que acho
no teu regaço.
É neste rigor
de espelhos
que me revejo.
Um inverso de alma,
uma espécie
de mim
ao contrário.
In “Geografias Dispersas”
Editora Edita-Me
Alexandra Malheiro
N. 1972
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