RECREIO
Na claridade da manhã primaveril,
Ao lado da brancura lavada da escola,
as crianças confraternizam-se com a alegria das aves....
E o sol abre-lhes rosas nas faces saudáveis
A mão doce do vento afaga-lhes os cabelos,
– Um sol discreto que se esconde às vezes entre nuvens brancas...
As meninas dançam de roda e cantam
As suas cantigas simples, de sentido obscuro e incerto,
Acompanhadas de gestos senhoris e graves.
Os rapazes correm sem tino e travam lutas,
Gritam entusiasmados o amor espontâneo à vida,
À vida que vai chegando despercebida e breve...
E a jovem mestra olha todos enlevadamente,
Com um sorriso misterioso nos lábios tristes...
In “Poesia de Ontem e de Hoje para o Nosso Povo Ler”
Antologia dirigida por José Régio
Edição da Campanha Nacional de Educação de Adultos
Alberto de Serpa
(1906-1992)
MAR MORTO
A noite caiu sobre o cais, sobre o mar, sobre mim...
As ondas fracas, contra o molhe, são vozes calmas de afogados.
O luar marca uma estrada clara e macia nas águas,
mas os barcos que saem podem procurar mais noite,
e com as suas luzes vão pôr mais estrelas além ...
O vento foi para outros cais levar o medo,
e as mulheres, que vêm dizer adeus e cantar,
hoje sabem canções com mais esperança,
canções mais fortes que a ressaca,
canções sem pausas onde passe uma sombra da morte...
Velhos marítimos — a terra é já a sua terra —
olham o mar mais distante e têm maior saudade...
Pára o rumor duns remos...
Não vão mais às estrelas as canções com noite, amor e morte...
Penso em todos os que foram e andam no mar,
em todos os que ficam e andam no mar também ...
E a luz do farol, lá longe, diz talvez...
In “Pregão” – 1952
Edições Saber
Alberto de Serpa
1906 – 1992
INCERTZA
Nem ilusão, nem
vida. De ilusão,
este amor não tem
os sonhos em vão.
E não tem, da vida,
caminho da morte:
sempre de subida,
sem nuvem que importe.
Assim, não acerto
no estado em que ando:
se sonho desperto
se vivo sonhando
In “Poemas Portugueses”
Antologia da Poesia Portuguesa
do Séc. XIII ao Séc. XXI
Porto Editora
Alberto de Serpa
1906 – 1992
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