FLORES DO VERDE PINHO
Ó meu jardim de saudades,
Verde catedral marinha
E cuja reza caminha
Pelas reboantes naves…
Ai flores do verde pinho,
Dizei que novas sabedes
Da minha alma, cujas sedes
Me perderam no caminho!
Revejo-te e venho exangue;
Acolhe-me com piedade,
Longo jardim de saudade
Que me puseste no sangue.
Ai flores do verde ramo,
Dizei que novas sabedes
Da minha alma, cujas sedes
Ma alongaram do que eu amo!
- A tua alma em mim existe
E anda no aroma das flores
Que te falam dos amores
De tudo o que é lindo e triste.
A tua alma, com carinho,
Eu guardo-a e deito-a, a cantar,
Das flores do verde pinho
- Àquelas ondas do mar.
In “País Lilás, Desterro Azul”
Sociedade Editora Portugal-Brasil
Afonso Lopes Vieira
(1878-1946)
DANÇA DO VENTO
O vento é bom bailador,
Baila, baila e assobia.
Baila, baila e rodopia
E tudo baila em redor.
E diz às flores, bailando:
- Bailai comigo, bailai!
E elas, curvadas, arfando,
Começam, débeis, bailando.
E suas folhas, tombando,
Uma se esfolha, outra cai.
E o vento as deixa, abalando,
- E lá vai!...
O vento é bom bailador,
Baila, baila e assobia,
Baila, baila e rodopia,
E tudo baila em redor.
E diz às altas ramadas:
Bailai comigo, bailai!
E elas sentem-se agarradas
Bailam no ar desgrenhadas,
Bailam com ele assustadas,
Já cansadas, suspirando;
E o vento as deixa, abalando,
E lá vai!...
O vento é bom bailador,
Baila, baila e assobia
Baila, baila e rodopia,
E tudo baila em redor!
E diz às folhas caídas:
Bailai comigo, bailai!
No quieto chão remexidas,
As folhas, por ele erguidas,
Pobres velhas ressequidas
E pendidas como um ai,
Bailam, doidas e chorando,
E o vento as deixa abalando
- E lá vai!
O vento é bom bailador,
Baila, baila e assobia,
Baila, baila e rodopia,
E tudo baila em redor!
E diz às ondas que rolam:
- Bailai comigo, bailai!
E as ondas no ar se empolam,
Em seus braços nus o enrolam,
E batalham,
E seus cabelos se espalham
Nas mãos do vento, flutuando
E o vento as deixa, abalando,
E lá vai!...
O vento é bom bailador,
Baila, baila e assobia,
Baila, baila e rodopia,
E tudo baila em redor!
In “Antologia Poética"
Guimarães Editores - 1966
Afonso Lopes Vieira
(1878-1946)
CANTARES DOS BÚZIOS
Nunca como em Veneza
Adoro a nossa pobreza
Portuguesa;
As nossas casas caiadas,
As nossas praias salgadas,
Os burricos berberes,
E na Batalha de pedras douradas
A saia pela cabeça das mulheres.
Ó Veneza oriental,
Marítimo tesouro
De púrpura, de mármores e de ouro:
- Em Portugal
Rico só é o céu que nos lá cobre.
Portugal teve o Mundo - e ficou pobre.
In “Cem Poemas Portugueses sobre Portugal e o Mar”
Selecção, organização e introdução de José Fanha e José Jorge Letria
Editora Terramar
Afonso Lopes Vieira
(1878-1946)
SAUDADES NÃO AS QUERO
Bateram fui abrir era a saudade
vinha para falar-me a teu respeito
entrou com um sorriso de maldade
depois sentou-se à beira do meu leito
e quis que eu lhe contasse só a metade
das dores que trago dentro do meu peito
Não mandes mais esta saudade
ouve os meus ais por caridade
ou eu então deixo esfriar esta paixão
amor podes mandar se for sincero
saudades isso não pois não as quero
Bateram novamente era o ciúme
e eu mal me apercebi de que batera
trazia o mesmo ódio do costume
e todas as intrigas que lhe deram
e vinha sem um pranto ou um queixume
saber o que as saudades me fizeram
Não mandes mais esta saudade,
ouve os meus ais por caridade,
ou eu então deixo esfriar esta paixão,
amor podes mandar se for sincero,
saudades isso não pois não as quero.
In “Antologia Poética"
Guimarães Editores - 1966
Afonso Lopes Vieira
(1878 - 1946)
FORMOSA INÊS
Choram ainda a tua morte escura
Aqueles que chorando a memoraram;
As lágrimas choradas não secaram
Nos saudosos campos da ternura.
Santa entre as santas pela má ventura,
Rainha, mais que todas que reinaram;
Amada, os teus amores não passaram
E és sempre bela e viva e loira e pura.
Ó Linda, sonha aí, posta em sossego
No teu moimento de alva pedra fina,
Como outrora na Fonte do Mondego.
Dorme, sombra de graça e de saudade,
Colo de Garça, amor, moça menina,
Bem-amada por toda a Eternidade!
(Ilhas de Bruma)
In “Antologia Poética de Inês de Castro”
Org. Maria Leonor Machado de Sousa
ACD Editores – Coimbra
Afonso Lopes Vieira
1878 – 1946
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