OUVE VOU DIZER-TE
Ouve vou dizer-te
abre com os dedos uma cereja
daquelas de fazer brinco quando a brisa é boa
tira-lhe o caroço
verás como isso é arrancar o coração do tempo
o carmesim do suco
é o choro e o riso
dos que se amam impacientes e belos
In “Resumo - a poesia em 2012”
Editora Documenta/Fnac - 2013
Abel Neves
(N.1956)
UMAS COISAS ATRÁS DE OUTRAS
Umas coisas atrás de outras
fixou na parede a tabuleta e lê-se
proibida a afixação
quem plantou aquela nespereira sabia o que fazia
agora há mais pássaros atrás das nêsperas
muito para além dos frutos alguém
escreveu numa parede do cais do sodré
a fatinha tem sida
aviso enorme
de enormidade
e ali perto outra inscrição
num prédio do corpo santo
paredes brancas povo mudo
In “Deitar a língua de fora”
Edições Língua Morta - 2012
Abel Neves
(N. 1956)
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