A BILHA
1
Bilha: forma que se casa
Com o meu coração,
A dar-me, simples, a asa,
Como um menino a mão!
Bilha que serve, na mesa,
e espera, sobre a tolha,
Que a gente sinta a beleza
de quem trabalha...
Bilha: donzela que dançou,
Dançou tanto de roda,
E na «pose» que me agrada,
De repente ficou!
2
Bilha só para ver...
Parece uma rapariga
Que ninguém quer,
A mostrar a barriga!
Bilha: mais bela por servir,
Por nem sempre conter,
por se poder
Partir...
Bilha que trabalha, que serve,
Que se enche e esvazia
Com a água e com a sede
De cada dia!
3
Serás, bilha, só a terna
Parede feminina
Entre o espaço que te cerca
E o espaço que te anima?
Mas da própria condição
de só deveres conter
Água para beber
Se forma o teu coração!
In “No Reino da Dinamarca”
Editores Guimarães
Alexandre O'Neill
(1924-1986)
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