POEMA DA RENUNCIA
Que venha a noite e deixe o seu mistério
sobre nós dois, Amor!
Não fomos feitos para andar ao sol,
continuamente,
nem para ter saudades do passado
ou pra chorar um sonho que se esfolha.
Nascemos só para viver e amar
e construir, na sombra e no silêncio;
nascemos só para cantar e encher do nosso canto heróico
a calma da alvorada que se espera;
nascemos só para nos confundirmos
na imensa teoria humana que se forma
e caminha consciente!
Que venha a noite e deixe o seu mistério
sobre nós,
e traga, sobre nós, o esquecimento!
In “Líricas Portuguesas” - I Volume
Selecção, Prefácios e apresentação de Jorge de Sena
Edições 70 -1984
Álvaro Feijó
(1916 -1941)
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