A MÃE
I
Sua ternura:
Com que alvoroço trémulo e espectante
chega a maternidade um dia, – como
da simples flôr se desentranha o gomo
a um raio de sol mais perturbador.
Vão-se os flancos erguendo na ondeante
vida que irrompe altiva, num assomo.
O seio branco amadurece em pomo
que o filho, ancioso, já não está distante.
No futuro que a Mãe lhe vai a erguer
a terra é pouca já p’ra êle ver
e pequeno o universo p’ra sonhar.
Mas, ei-lo enfim que chega... E a terra e o espaço
se circunscrevem no minguado abraço
em que os seus labios se unem p’ra o beijar...
II
Sua bondade:
Um filho vem, mais um e outro ainda.
Fonte da vida, a vida corre enquanto
do seu amor jorrar, em flúido, o encanto
que aos olhos d’outro amor a torna linda.
Cada vida que vem ao mundo em pranto
é p’ra o seu amplo coração bem vinda.
E já não sabe (se esse amar é tanto!)
onde o filho começa e onde a mãe finda.
E como em roda o azul do ceo pendente
se curva e pousa em terra e pensa a gente
que êle está perto – e é a Imensidade,
assim a alma da Mãe – ilimitada,
abraça o filho, mas, aperfilhada,
passa no lento abraço – a Humanidade.
In Revista “ÁMANHÔ
(Revista popular de orientação racional)
I Série – Nº 1 – 1 de Junho de 1909 – Pág. 10
Directôres – Grácio Ramos & Pinto Quartim
Manuel Ribeiro
1879 – 1941
Mantém a grafia original
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