AMARELO QUEBRADO
As casas ganham um ar mais mortal
na tristeza depois de não ter havido coito.
Vão depressa as nuvens, tão depressa, levam pombos
e telhados agudos com ardósia quebram
em radiações de treva na água aprisionada.
Já tínhamos falado de tudo na véspera,
do adiamento, da sufocação,
mas senti que não seria assim.
Com a garganta ao contrário da Holanda,
seca, incapaz de falar.
Vi os gráficos do sangue empresarial.
Na floração das vendas, o risco suspendia
câmbios de gasolina sobre mim.
Ao som do telefax, um visor de números
era agora o teu rosto.
Por cima do casaco hesitavam as mãos
de novo perdidas no medo de prender-se
ao metal tecido de milagre da saliva.
Eram mãos que não sabiam pousar.
A experiência agora é esta: chamar desamor
à emoção que não entende o que deseja,
confunde os sentimentos numa aridez tão pesada
que nem eu percebo como deixa voar um avião
por este sem fim de céu que traz o fim.
Mas foi horas antes que findou.
Ia a noite avançando, escurecia o hotel
e as mãos ficaram presas. Tanto tempo,
tanto tempo nenhum.
In “As Escadas Não Têm Degraus”
Edição de Livros Cotovia
Joaquim Manuel Magalhães
(N.1945)
. Mais poesia em
. Eu li...
. Recordando... Francisca d...
. Recordando... Hélia Corre...
. Recordando... Isabel Gouv...
. Recordando... Hélder Maga...
. Recordando... Irene Lisbo...
. Recordando... Joaquim Nam...
. Recordando... Joaquim Man...
. Recordando... Mário de Sá...
. Recordando... Miguel Torg...