Recordando... Hélder Magalhães

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Domingo, 19 de Novembro de 2023

Recordando... Hélder Magalhães

UM DIA ESCREVO À MINHA MÃE

um dia escrevo à minha mãe

o poema com a menina

que ela gostaria de ter dado à luz.

há-de riscar-lhe os vestidos

e costurá-los…

com as mãos que só ela sabe

sentá-la no colo e coser-lhe as flores

dos versos

entre as madeixas dos cabelos

com as mãos que só ela sabe.

há-de fazer

crescer o pano do vestido

refazer as bainhas sempre que preciso

e o sorrir dos botões

pelo ventre das casas

com as mãos que só ela sabe.

um dia escrevo à minha mãe

o poema com a menina

que ela gostaria de ter dado à luz.

In “Dista um palmo, a amplitude do peso que suportas”

Hélder Magalhães

(N.1982)

tags: hélder magalhães, poema, poesia, poetas, um dia escrevo à minha mãe

publicado por cateespero às 00:00

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1 comentário:

De Bea a 20 de Novembro de 2023 às 06:57

Poema tão bonito. Mas suponho que o amor aos filhos independe do sexo. Ter um filho abarca um mundo de afectos. Sendo verdade que, das meninas e com elas, as mães esperam atitudes mais próximas, talvez pelo género, e pelo hábito social. A grande verdade do poema não mora na diferenciação, mas no facto do autor reconhecer nas mãos da mãe uma mesmidade: poderiam elas, se houvera a tal menina, talhar com o mesmo amor os pequenos nadas atribuídos ao género. Imagina ele haver na mãe a nostalgia de amar alguém do mesmo sexo e a quem veria crescer. As coisas/pessoas que nunca chegam a ser, ficam-se no domínio do sonho. Quiçá seja sonho do próprio poeta e não o de sua mãe. Mas que é um sonho muito bem poemado, isso é.

CÁ TE ESPERO...

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