CABEÇA AUGUSTA, QUE UMA LUZ CONTORNA
Cabeça augusta, que uma luz contorna,
Que há entre mim e o mundo que me faz
(Porque em espinhos e auréola se torna?)
Ansiar a minha morte e a tua paz?
A tua história — Pilatos ou Caifás
Que tem? São sonhos que o narrar transtorna.
Não é esse o calvário a que te traz
Tua sina onde todo o fel se entorna.
Não. É em mim que se o Calvário ergueu.
É em meu coração abandonado
Que Ele, cabeça augusta, alto sofreu.
Quem na Cruz onde está ermo e pregado
O pregou? Foi Romano ou foi Judeu?
Bate-me o coração. Meu Deus, fui eu!
20-1-1933
In “Poemas Esotéricos - Fernando Pessoa” – 1ª edição Abril.2014
Edição de Fernando Cabral Martins e Richard Zenith
Assírio & Alvim
Pág. 97
Fernando Pessoa
(1888-1935)
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