CORPOS
O meu corpo é o abismo entre eu e eu.
Se tudo é um sonho sob o sonho aberto
Do céu irreal, sonhar-te é possuir-te,
E possuir-te é sonhar-te de mais perto
As almas sempre separadas,
Os corpos são o sonho de uma ponte
Sobre um abismo que nem margens tem
Eu porque me conheço, me separo
De mim, e penso, e o pensamento é avaro
A hora passa. Mas meu sonho é meu.
s.d.
In “Pessoa Inédito”
Orientação, coordenação e prefácio de Teresa Rita Lopes
Livros Horizonte - 1933
Pág. 7
Fernando Pessoa
(1888-1935)
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