SOSSEGA CORAÇÃO!
Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!
Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.
2 - 8 - 1933
In “Poesia 1931-1935 e não datada”
Ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine
Assírio & Alvim - 2006
Fernando Pessoa
(1888-1935)
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