VIAGEM
Com um sobressalto cessa o realejo…
Outra vez o pequeno quarto, outra vez as paredes,
as sujas paredes albergando objectos familiares
de utilidade definida, visíveis a olho nu.
Outra vez tudo como antes da viagem. Agora
a, escada de corda atravessou a clarabóia,
parou no meio do quarto, desci por ela – Aqui estou!
A mulher que se desprende de mim e se levanta
é uma estranha e nua criatura… De onde a recordo?
Um odor irritante apossa-se do ar,
um odor acre sem nada de sobrenatural
mas que dissolve a escada de corda como um ácido.
Tudo está completo dentro da sua dimensão;
vem de longe o eco de risos e de vozes;
o sonho está cicatrizado. A mulher atravessa o quarto
e grita para além da porta, numa estridência aguda:
– ÁGUA.
In “ÁRVORE ”
Folhas de Poesia
1.º Fascículo - Outubro de 1951
Pág. 58
Egito Gonçalves
(1920-2001)
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