FADO DO NAVEGANTE
Meu lugre "Vento de Maio",
todo pintado de azul,
comprei-o nos mares do Sul
a um pirata malaio.
Lá onde o céu é maior
trafiquei pérola e copra;
a todo o vento que sopra
soube o caminho de cor.
Um dia, não sei porquê,
(frágeis que são as memórias...)
fiz-me a águas hiperbóreas
a vr o que lá se vê.
No meu regresso do Polo
trouxe uns sorrisos de gelo,
esta neve no cabelo
e duas focas ao colo...
Cheguei inteiro a Lisboa,
mas ninguém me conheceu!
Por isso pintei de breu
a minha vela de proa.
Triste, vendi o navio;
só uma corda guardei.
Os nós que dei e desdei
até que ficou no fio!
o saber verdadeiro
e o gosto do mar amigo
vão para a morte comigo
no meu secreto roteiro.
In “Sete Luas”
Edição de 200 exemplares
da Tipografia da Atlântida, 1943
António de Sousa
(1898-1981)
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