AH, ABRAM-ME OUTRA REALIDADE!
Ah, abram-me outra realidade!
Quero ter, como Blake, a contiguidade dos anjos
E ter visões por almoço.
Quero encontrar as fadas na rua!
Quero desimaginar-me deste mundo feito com garras,
Desta civilização feita com pregos.
Quero viver, como uma bandeira à brisa,
Símbolo de qualquer coisa no alto de uma coisa qualquer!
Depois encerrem-me onde queiram.
Meu coração verdadeiro continuará velando
Pano brasonado a esfinges,
No alto do mastro da visões
Aos quatro ventos do Mistério.
O Norte – o que todos querem
O Sul – o que todos desejam
O Este – de onde tudo vem
O Oeste – aonde tudo finda
– Os quatro ventos do místico ar da civilização
– Os quatro modos de não ter razão, e de entender o mundo
4-4-1924
In “Poesia”
Edição de Teresa Rita Lopes
Assírio & Alvim – 2002
Álvaro de Campos
Heterónimo de Fernando Pessoa (1888-1935)
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