HOMENS DO PRESENTE
Homens do presente, nada no passado,
Antes de serdes as coisas que vemos,
Quem podia ter sabido ou pensado
Que seríeis hoje aquilo que temos?
Ah, passantes pela mesma via,
Quem pôde pensar-vos antes deste dia?
Homens do presente e pó de amanhã,
Ao passar dos anos aonde ireis ter?
Que rude mudez ou ânsia em pressa vã
Irá registar vossa dor e prazer?
Ondas ou cristas do mar desta vida
Quem vos pensará passado este dia?
Só o génio pode o fogo atiçar
Que na natureza em vós abrigais;
Só o génio pode a lira tocar
E erguer vosso nome aos céus dos mortais;
O génio pode a morte romper
E o nada de ontem num tudo verter.
Mas a virtude, como os choros humanos,
Pelos areais depressa bebida,
Mergulha no pó dos passados anos
E nem sabereis onde está escondida.
Que o génio, então, possa ser laureado;
Que o pó de amanhã seja eternizado
1904
In “Poesia”
Edição e tradução de Luísa Freire
Assírio & Alvim - 1999
Alexander Search
Heterónimo de Fernando Pessoa (1888-1935)
. Mais poesia em
. Eu li...
. Recordando... Carlos Camp...
. Recordando... Ivone Chini...
. Recordando... Edmundo de ...
. Recordando... Branquinho ...
. Recordando... Carlos Ramo...
. Recordando... António Pin...
. Recordando... Sidónio Mur...
. Recordando... Margarida V...