INVENTÁRIO
Rosas inglesas rosa pálido tingido
de alvura, gravatas Lanvin e Ricci.
Na mão a demorada taça de ordálio,
ouro velho e insidioso, doce cheiro a fumo.
Objectos familiares, ténues, difusas
lembranças de longe. Um crânio
de ébano negrejando entre a luz
e a garrulice do barro artesanal,
o cio magoado da voz fadista. A ilha ao sol,
ao sonho, amortalhada na distância.
O cajueiro e a mafurra, micaias
agrestes, panoramas da infância,
dolorosos, esbatidos fantasmas
de outro tempo, agigantados em olmos
e castanheiros na oval cinzenta
do No Man's Common. Livros por abrir
dormitando na poeira, o gráfico
anguloso do horóscopo, retratos,
memória paralisando o instante
esquecido. A mulher de passagem,
velo fulvo, debrum para o azul
lavado do olhar, perfil mitigando
a vacilante modorra do entardecer.
Alongada curva do flanco retraindo-se
sob a experimentada carícia antiga
dos dedos cansados. Toda a memória
inflectindo o gesto, o gesto já só memória
que de si mesma se desprende e afasta,
conjecturando, indolor, a paisagem
neutra dos dias que se avizinham ermos.
In “O Corpo de Atena”
Imprensa Nacional-Casa da Moeda – 1984
Rui Knopfli
1932 – 1997
. Mais poesia em
. Eu li...
. Recordando... Cecília Vil...
. Recordando... Alexandre O...
. Recordando... Emiliano da...
. Recordando... Alexandra M...
. Recordando... Eugénio de ...
. Recordando... Miguel Torg...
. Recordando... Fernando Pi...
. Recordando... Carlos Melo...
. Recordando... Edgardo Xav...