ARTE POÉTICA
De anjos falo – os seres
que por aqui transitam
entre a recepção e a psiquiatria
e durante horas se enredam em novelos
onde as cores misturadas ampliam
os berros e as carícias sob as sombras.
Os seres que se masturbam
na solidão do mundo e sem lágrimas
rebentam com o peito contra as grades, fulminados
da azáfama dos pássaros nos cabelos
e a ausente presença de Deus
sobre os ombros
De anjos falo – no aterrador silêncio
perscruto-os em busca do refúgio
que não pode encontrar-se neste tempo
em que a vertigem fere as asas
imortais dos seres proscritos.
In “Poesia Digital – 7 Poetas dos Anos 80”
Campo das Letras, 2002
Amadeu Batista
N. 1953
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