À FLOR DAS VAGAS
Vai a barca do mundo à flor das vagas
No seu mar de tormentas;
Gemem os remadores,
Mordidos pelo beijo de chicote;
E tu, poeta, como um sacerdote,
Da bonança,
A conjurar o mal,
A cantar,
Sem nenhum desespero,
Te desesperar!
Sabe cada ternura a pão azedo
Os acenos são olhos disfarçados;
E os teus versos,
Gratuitos, desfolhados,
Sobre as chagas da vida
Como pensos sagrados
De beleza calmante e condoída!
Que humanidade tens, irmão?
De onde te vem a força, a decisão
E esse gosto de nunca desertar?
És o Cristo, talvez...
Um Cristo sem altar
Que ficaste a lutar
Junto de nós,
Tão presente, real e natural,
Que podemos ouvir-lhe a própria voz.
Miguel Torga
1907 – 1995
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