NOTAS INÚTEIS
Sacudo o sonho
como o resto do pó
de um velho casaco
para que a pele guarde em silêncio
a sua cicatriz
mas no mesmo sitio
vê-se claramente a queimadura
de outra ferida
combustão do homem
onde uma mulher terrível
lançou à distância
o seu dardo de silêncio
desfigurando-lhe o coração
das cinzas férteis
outra surgia lentamente
semente adormecida pelo frio
brotava do chão como uma casa luminosa
ligava a máquina nocturna
onde o homem fabricava as nuvens
e alimentava o fruto da paixão
o resto era sémen
lágrima
boca
escuridão.
In “O Mar Todo”
Edição do Autor, 2016
Carlos Ramos
(N.1967)
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