Segunda-feira, 30 de Setembro de 2024

Recordando... Fausto José

NAS MORNAS SOLIDÕES…

 

Nas mornas solidões, lá nas florestas virgens,

Onde sonham ao luar extáticos paúis,

As nuvens sensuais têm súbitas vertigens:

Chuvas torrenciais, relâmpagos azuis!

 

Langorosas d’amor vêm as noites macias,

Com o seu vago torpor de aroma e claridade,

E as estrelas, no céu, mais brilhantes e frias

Ostentam a nudez da sua virgindade!

 

Assim no coração imenso dos poetas,

Após as vivas dores, as torturas secretas,

Que no silêncio, audaz, criou seu pensamento,

 

Como que a vida ganha um sentido maior,

A mais longe se espraia a onda do amor,

Mais penetrante e doce é a luz do sentimento!

 

(mantém a grafia original)

 

In “Presença”

Fôlha de Arte e Crítica

Nº 1 - 10 de Março de 1927

Pág. 6

 

Fausto José

(1903-1975)

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Quarta-feira, 25 de Setembro de 2024

Recordando... Ivone Chinita

POEMA TREMENDO

 

Do tremendo poema que já fiz

ou antes do tremendo poema ficaram

gestos poucos diluídos

no ar pesado para respirar

como cinzenta era a ilha

e tremenda a solidão dos passos

deslocados sob os pés de

marinhante

 

a tristeza da criança

sentada ao meu lado

ocultando as nódoas da blusa

 

a roupa inevitável pendurada

nas cordas

a dor nas costas da mãe

lavando uma vida toda

lavando uma vida toda

 

mas tremenda, tremenda mesmo

é esta tarde parada

em que não temos coragem

de soprar no vento

 

In “Outra Versão da Casa”

Edições Base

 

Ivone Chinita

(1943-1983)

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Quinta-feira, 19 de Setembro de 2024

Recordando... Edmundo de Bettemcourt

PASSIVIDADE

 

Passividade suave e feiticeira

tentou-me, em tua bôca mal pintada,

nos teus olhos azuis d’alucinada,

na estopa a rir da tua cabeleira.

 

Minha arte d’amar, pelotiqueira,

deu fôgo à tua carne inanimada,

tornando mais gentil e articulada

a boneca que fôsses duma feira.

 

Levando ao ar um braço, eras adeus

a uma estranha mulher que em ti morrera

e cujo busto nu vejo entre véus…

 

E ao descerrares a acre flôr da bôca

a tua voz sonâmbula, de cêra,

já era um éco d’alma em alma ôca!

 

Coimbra, 1926

 

(mantém a grafia original)

 

In “Presença”

Fôlha de Arte e Crítica

Nº 1 - 10 de Março de 1927

Pág. 6

 

Edmundo de Bettemcourt

(1899-1973)

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Sexta-feira, 13 de Setembro de 2024

Recordando... Branquinho da Fonseca

PARÁBOLA

 

Um grito de ave corta o espaço

e o vôo fere a flôr do lago

que não desperta do sonho em que o sonha,

do sonho em que se adormeceu…

o lago escuro como um espelho sem aço

onde já se não olha o céu!...

 

(mantém a grafia original)

 

In “Presença”

Fôlha de Arte e Crítica

Nº 1 - 10 de Março de 1927

Pág. 6

 

Branquinho da Fonseca

(1905-1974)

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Sábado, 7 de Setembro de 2024

Recordando... Carlos Ramos

NOTAS INÚTEIS

 

Sacudo o sonho

como o resto do pó

de um velho casaco

para que a pele guarde em silêncio

a sua cicatriz

mas no mesmo sitio

vê-se claramente a queimadura

de outra ferida

combustão do homem

onde uma mulher terrível

lançou à distância

o seu dardo de silêncio

desfigurando-lhe o coração

das cinzas férteis

outra surgia lentamente

semente adormecida pelo frio

brotava do chão como uma casa luminosa

ligava a máquina nocturna

onde o homem fabricava as nuvens

e alimentava o fruto da paixão

o resto era sémen

lágrima

boca

escuridão.

 

In “O Mar Todo”

Edição do Autor, 2016

 

Carlos Ramos

(N.1967)

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Domingo, 1 de Setembro de 2024

Recordando... António Pinheiro Guimarães

45 ROTAÇÕES

 

Vamos! Do teu lado esquerdo

procura-me um disco pequenino,

um disco verde,

e põe-no a girar.

Não disse mais nada.

Ficámos calados.

Mas o que é certo é que os outros

tinham desaparecido,

parecia mesmo que a sala

tinha desaparecido.

Só a música, uma música nossa,

e qualquer coisa de inexplicável,

um fio de magia,

uma companhia que não estava,

mas as paredes limitavam-nos bem,

as paredes não disseram nada,

cumpriram.

Parece não haver explicação,

e todas as explicações

nada explicam.

A magia de um recolhimento

um olhar a procurar o meu.

O disco,

o disco pequenino,

amarelo azul ou verde,

parou.

O teu olhar desviou-se.

 

Outubro/80

 

In “Revista Colóquio/Letras. Poesia”

N.º 63 - Set. 1981

Pág. 61

 

António Pinheiro Guimarães

(1922-2000)

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