SE BEM ME LEMBRO
«Se bem me lembro», dizem,
nemesianamente, mas sem igual facúndia
ou fascinação, para cair apenas
em histórias miúdas, importantes
sem dúvida mas não para quem
as ouve (nós). Memórias em mosaico,
lacunares, de avós com doenças
ou tardes absolutamente de verão
há décadas atrás, com gente que já morreu,
ou a biografia de uma cómoda,
e considerações pouco amáveis sobre uma
foto que se desprendeu do álbum.
Ouvimos, rimos de ironias
estritamente pessoais e etárias,
entendemo-nos como receptores
destas reminiscências inevitáveis,
aborrecidas e centrais,
entendemos mais ou menos
que também havemos de maçar
as «gerações vindouras» com contos assim,
acrescentando pontos e observando,
sem perceber porquê, que os netos
e os sobrinhos parecem achar
banais ou mesmo senis os pormenores
de uma certa manhã, há cinquenta anos atrás,
e sobre a qual, como já fizeram connosco,
não contamos tudo.
In "Em Memória"
Gótica Editora
Pedro Mexia
(N.1972)
. Mais poesia em
. Eu li...
. Recordando... Florbela Es...
. Recordando... Maria Teres...
. Recordando... David Mourã...
. Recordando... Carlos Mari...
. Recordando... Adolfo Casa...
. Recordando... Artur do Cr...
. Recordando... Domingos Ca...
. Recordando... Cecília Vil...
. Recordando... Alice Vieir...