«CAMPO ABERTO»
DE SEBASTIÃO DA GAMA
Anda ontem eu falava de ti
serenamente
(a propósito:
não te esqueças <le responder
à minha última carta)
e agora
quero falar e não posso,
as palavras, húmidas, escorregam-me na garganta,
deixam-me na boca um sabor amargo.
Recebo a tua morte
como um golpe nas veias
à hora mais distraída,
quando o sol se define por uma linha perpendicular
e nós fazemos um ângulo raso com a vida.
Daí esta angústia,carnívora,
esta contracção súbita das raízes,
este horizonte curvado
de tanto reprimir as lágrimas.
Daí este evidente recuo idos meus passos
quando pretendo alcançar-te.
Mas tu prometeste que voltavas
e um Poeta cumpre sempre o que promete.
Entretanto sossega, meu amigo!:
o campo está definitivamente aberto
e as abelhas começam já
a carregar o pólen para os seus cortiços
e a perpetuar a essência dos teus versos.
Eu fico
com um manto de bruma sobre os ombros
esperando o teu regresso,
com a firme certeza
que só a amizade nos restitui os mortos.
7-2-52
In “ÁRVORE ”
Folhas de Poesia
Direcção e Edição de António Luís Moita, António Ramos Rosa,
José Terra, Luís Amaro, Raul de Carvalho
1.º Fascículo - Inverno de 1951-52
Pág. 91/92
Albano Martins
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