EM CADA SORRISO QUE FAZES
Em cada sorriso que fazes
Transparece a criança
Que guardas em ti.
Nasce uma madrugada
Em cada estrela que olhas
Quando os meus olhos,
Perdidos,
Fixam o teu olhar.
In “Na Serenidade dos rios que enlouquecem”
Editora Amores Perfeitos
Paulo Eduardo Campos
(N.1975)
SEGREDO
Não contes do meu
vestido
que tiro pela cabeça
nem que corro os
cortinados
para uma sombra mais espessa
Deixa que feche
o anel
em redor do teu pescoço
com as minhas longas
pernas
e a sombra do meu poço
Não contes do meu
novelo
nem da roca de fiar
nem o que faço
com eles
a fim de te ouvir gritar
In “Minha Senhora de Mim”
Publicações Dom Quixote
Maria Teresa Horta
(N.1937)
A VIDA
A vida, as suas perdas e os seus ganhos, a sua
mais que perfeita imprecisão, os dias que contam
quando não se espera, o atraso na preocupação
dos teus olhos, e as nuvens que caíram
mais depressa, nessa tarde, o círculo das relações
a abrir-se para dentro e para fora
dos sentidos que nada têm a ver com círculos,
quadrados, rectângulos, nas linhas
rectas e paralelas que se cruzam com as
linhas da mão;
a vida que traz consigo as emoções e os acasos,
a luz inexorável das profecias que nunca se realizaram
e dos encontros que sempre se soube que
se iriam dar, mesmo que nunca se soubesse com
quem e onde, nem quando; essa vida que leva consigo
o rosto sonhado numa hesitação de madrugada,
sob a luz indecisa que apenas mostra
as paredes nuas, de manchas húmidas
no gesso da memória;
a vida feita dos seus
corpos obscuros e das suas palavras
próximas.
In "Teoria Geral do Sentimento"
Quetzal Editores
Nuno Júdice
(N.1949)
NUNCA FALA DA VIDA
Nunca fala da Vida
sem que entristeça…
Mas flores que morrem
nascem outra vez…
Mas pela ardentia
zunem as cigarras…
Mas aquela moça
traz no ventre um filho…
Mas das folhas secas
que há pelo Outono
(de olhá-las a gente
quase entristecia)
já ninguém se lembra
quando é Primavera…
In “Cabo da Boa Esperança”
Ed. Ática – 1970
Sebastião da Gama
(1924-1952)
A UMA OVELHA
Entre as meigas ovelhas pobrezinhas
que eu guardo pelos montes, uma existe
que anda longe balindo, sempre triste,
e vive só das ervas mais sequinhas.
Que pressentes na alma? Que adivinhas?
Etérea voz de dor acaso ouviste?
Que foi que tu, nas nuvens, descobriste?
Não és irmã das outras ovelhinhas.
Sobes às altas fragas escarpadas,
e contemplas o sol que desfalece
e as primeiras estrelas acordadas...
E assim ficas a olhar o céu profundo:
faminta dessa relva que enverdece
os outeiros e os vales do outro mundo.
In “Vida Etérea” - 1906
Teixeira de Pascoaes **
** Pseudónimo literário de Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos
O MAR DOS MEUS OLHOS
Há mulheres que trazem o mar nos olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma
E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse
Da praia onde foram felizes
Há mulheres que trazem o mar nos olhos
pela grandeza da imensidão da alma
pelo infinito modo como abarcam as coisas e os homens...
Há mulheres que são maré em noites de tardes...
e calma
In "Obra Poética"
Sophia de Mello Breyner Andresen
(1919-2004)
. Mais poesia em
. Eu li...
. Recordando... Florbela Es...
. Recordando... Maria Teres...
. Recordando... David Mourã...
. Recordando... Carlos Mari...
. Recordando... Adolfo Casa...
. Recordando... Artur do Cr...
. Recordando... Domingos Ca...
. Recordando... Cecília Vil...
. Recordando... Alice Vieir...