Sexta-feira, 31 de Julho de 2020

Recordando... José Saramago

DE PAZ E DE GUERRA

 

Na mão serena que num gesto de onda

Em estátua musical o ar modela.

 

Na mão torcida que num frio de gelo

A parede do tempo em fundos gritos risca.

 

Na mão de febre que num suor de chama

Em cinzas vai tornando quanto toca.

 

Na mão de seda que num afago de asa

Faz abrir os sonhos como fontes de água.

 

Na tua mão de paz, na tua mão de guerra,

Se já nasceu amor, faz ninho a mágoa.

 

In “Os Poemas Possíveis”

Editorial Caminho

 

José Saramago

(1922-2010)

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Sábado, 25 de Julho de 2020

Recordando... Luís Vaz de Camões

MUDAM-SE OS TEMPOS

 

Mudam-se os tempos mudam-se as vontades,

muda-se o ser, muda-se a confiança;

todo o mundo é composto de mudança,

tomando sempre novas qualidades.

 

Continuamente vemos novidades

diferentes em tudo da esperança;

do mal, ficam as mágoas da lembrança,

e do bem – se algum houve – as saudades.

 

O tempo cobre o chão de verde manto.

que já coberto foi de neve fria,

e em mim converte em choro o doce canto.

 

E, afora este mudar-se cada dia,

outra mudança faz de mór espanto:

que não se mude já como soía.

 

In “Eu cantarei de Amor – Poesia Lírica de Camões”

Areal Editores

 

Luís Vaz de Camões

(1524-1580)

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Domingo, 19 de Julho de 2020

Recordando... Manuela Amaral

POSSE INTEMPORAL

 

Fazer amor contigo

não é espelhar teu corpo nu

no vítreo do meu espaço

não é sentir-me possuída

ou possuir-te

 

É ir buscar-te

ao abismo de milénios de existência

e trazer-te livre.

 

In “Amor no feminino”

Editora Fora do Texto

 

Manuela Amaral

(1934-1995)

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Segunda-feira, 13 de Julho de 2020

Recordando... Mário de Sá-Carneiro

FIM

 

Quando eu morrer

Batam em latas,

Rompam aos saltos e aos pinotes

Façam estalar no ar chicotes

Chamem palhaços e acrobatas.

 

Que o meu caixão vá sobre um burro

Ajaezado à andaluza:

A um morto nada se recusa,

E eu quero por força ir de burro...

 

In “Athena – Revista de Arte”

N.º 2 - Novembro.1924

Pág. 46

 

Mário de Sá-Carneiro

(1890-1916)

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Terça-feira, 7 de Julho de 2020

Recordando... Sophia de Mello Breyner Andresen

ESTA GENTE

 

Esta gente cujo rosto

Às vezes luminoso

E outras vezes tosco

 

Ora me lembra escravos

Ora me lembra reis

 

Faz renascer meu gosto

De luta e de combate

Contra o abutre e a cobra

O porco e o milhafre

 

Pois a gente que tem

O rosto desenhado

Por paciência e fome

É a gente em quem

Um país ocupado

Escreve o seu nome

 

E em frente desta gente

Ignorada e pisada

Como a pedra do chão

E mais do que a pedra

Humilhada e calcada

 

Meu canto se renova

E recomeço a busca

De um país liberto

De uma vida limpa

E de um tempo justo

 

In "Geografia", de 1967,

Incluído em "Obra Poética",

Ed. Caminho, Lisboa, 2010

 

Sophia de Mello Breyner Andresen

(1919-2004)

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Quarta-feira, 1 de Julho de 2020

Recordando... Victor Oliveira Mateus

TRAZ-ME UM TEMPO

 

Traz-me um tempo sem mistério.

Um tempo sem mácula e límpido,

comigo sentado na soleira

por entre o zunido dos insetos

e a cantilena dos homens no lagar.

 

Devolve-me os gestos que julgava perdidos.

Não me fales de viagens!

De cidades onde não vivi,

dos corpos que consumiste

em aventuras mais ou menos frustradas,

quando eu nem miragem era.

 

Cala o que me desarma,

o que me avoluma o tédio:

a imagem desses bares onde bebias,

nessas noites em que tropeçavas noutros

e eu não passava de uma impossibilidade

a fermentar numa paisagem

antecipadamente derrotada.

 

Concede-me de novo esse tempo sem mistério,

um tempo cristalino,

um tempo de loucura e inocência,

um tempo de desejos transparentes,

de corpos ardentes e simples

como só as coisas puras conseguem ter.

 

In “Aquilo que não tem nome”

Editora Coisas de Ler

 

Victor Oliveira Mateus

(N.1952)

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