Domingo, 31 de Maio de 2020

Recordando... Fernando Namora

CANTAR D´AMIGO

Estrangeiro! talharam-nos em redor fossos, limites
e o cerco das fronteiras.
Estrangeiro! Ninguém entendeu, e nem tu, estrangeiro,
que entre nós não existem cordilheiras.

Ficaste de mãos desastradas, indiferentes,
quando a minha vida roçou a tua vida.
De olhos parados, indiferentes,
quando passei a teu lado.

Estrangeiro! Ficou-me esse desperdício de um adeus
que as tuas mãos frias não disseram,
nem os teus olhos vidrados,
nem a tua boca selada,
mas que eu pressenti, como alguém á beira de um cais,
ao ver sair barcos com gente que nos é estranha,
agitando lenços estranhos
alguém que sofre por nada.
Iludimos a vida, amigo!
E como para ultrapassar as fronteiras
os fossos,
as ironias
bastaria um só olhar!...
Não, estrangeiro! Vamos misturar o sangue dos rios
o abismo dos mapas
fazer qualquer coisa! misturar, misturar.

 

In “Antologia de poemas Alentejanos”

 

Fernando Namora

(1919-1989)

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | favorito
Segunda-feira, 25 de Maio de 2020

Recordando... José Duro

NOIVADO ESTRANHO

 

Quisera amar-te muito, ó Gémea do luar,
Num sonho excepcional, só de carícias feito,
Abendiçoar o céu na luz do teu olhar,
E a alma adormecer na curva do teu peito;

Quisera amar-te sempre, ó Doce como arminho
E casta como a pomba em seus arrulhos doces...
E, em troca deste amor, viver do teu carinho,
Que eu não vivia, não, Mulher, se tu não fosses!

Passar a vida inteira a ver-me nos teus olhos,
Apenas ter ventura em vez de ter abrolhos,
Beber o teu sorriso, e as mágoas esquecê-las...

E quando a morte viesse e nos levasse a ambos
Realizarmos então os desejados tambos,
Na Igreja do Além... em meio das estrelas.

 

In “Fel”

José Duro

(1873-1899)

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | favorito
Terça-feira, 19 de Maio de 2020

Recordando... Manuel Alegre

AS FACAS

 

Quatro letras nos matam quatro facas

que no corpo me gravam o teu nome.

Quatro facas amor com que me matas

sem que eu mate esta sede e esta fome.

 

Este amor é de guerra. (De arma branca).

Amando ataco amando contra-atacas

este amor é de sangue que não estanca.

Quatro letras nos matam quatro facas.

 

Armado estou de amor. E desarmado.

Morro assaltando morro se me assaltas.

E em cada assalto sou assassinado.

 

Quatro letras amor com que me matas.

E as facas ferem mais quando me faltas.

Quatro letras nos matam quatro facas.

 

In “Obra Poética”

Publicações Dom Quixote

 

Manuel Alegre

(N.1936)

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | favorito
Quarta-feira, 13 de Maio de 2020

Recordando... Francisco Joaquim Bingre

O TANQUE

 

Que tanque é este,

Que não transborda,

Que nunca a água

Lhe chega à borda?

 

Estão mil fontes

Nele a correr,

E não se pode

Jamais encher.

 

Fez-se para a rega

Dos secos prados

E estes gretam

Sem ser regados?

 

Entram, não saem,

Águas?... Que agoiro!

O negro tanque

Tem sumidoiro!

 

In "Obras de Francisco Joaquim Bringre" Vol. IV

Lello Editores

 

Francisco Joaquim Bingre

(1763-1856)

publicado por cateespero às 17:19
link do post | Deixe seu comentário | favorito
Quinta-feira, 7 de Maio de 2020

Recordando... Hélia Correia

ESSA BELEZA QUE ERA TAMBÉM ESPANTO

 

Essa beleza que era também espanto

Pelo dom da palavra e pelo seu uso

Que erguia e abatia, levantava

E abatia outra vez, deixando sempre

Um rasto extraordinário. Sim, a hora,

Dois séculos antes, em que uma ausência

E o seu grande silêncio cintilaram

Sobre a mão do poeta, em despedida.

 

In “A Terceira Miséria”

Relógio d’Água - 2012

 

Hélia Correia

(N.1949)

publicado por cateespero às 17:24
link do post | Deixe seu comentário | favorito
Sexta-feira, 1 de Maio de 2020

Recordando... Agostinho da Silva

ONTEM SONHEI QUE SONHAVA

 

Ontem sonhei que sonhava

e me mantinha desperto

contente por me escapar

de um mundo que me era incerto

 

Quando tornei a dormir

já rompia a madrugada

e na clara luz não tinha

certeza alguma de nada

 

Seguro porque voltava

ao que é lógico e real

à vida que firme sabe

do que é bem e do que é mal

 

In "Uns Poemas de Agostinho"

Ulmeiro - 1989

 

Agostinho da Silva

(1906-1994)

publicado por cateespero às 00:00
link do post | Deixe seu comentário | favorito

.Eu

.pesquisar

 

.Março 2024

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
14
15
16
17
18
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31

.Ano XVI

.posts recentes

. Recordando... Ricardo Gil...

. Recordando... Saúl Dias *...

. Recordando... Ruy Belo

. Recordando... Rui Miguel ...

. Recordando... Rui Pires C...

. Recordando... Sebastião d...

. Recordando... Augusto Mol...

. Recordando... Egito Gonça...

. Recordando... António Ram...

. Recordando... Maria Auror...

.arquivos

. Março 2024

. Fevereiro 2024

. Janeiro 2024

. Dezembro 2023

. Novembro 2023

. Outubro 2023

. Setembro 2023

. Agosto 2023

. Julho 2023

. Junho 2023

. Maio 2023

. Abril 2023

. Março 2023

. Fevereiro 2023

. Janeiro 2023

. Dezembro 2022

. Novembro 2022

. Outubro 2022

. Setembro 2022

. Agosto 2022

. Julho 2022

. Junho 2022

. Maio 2022

. Abril 2022

. Março 2022

. Fevereiro 2022

. Janeiro 2022

. Dezembro 2021

. Novembro 2021

. Outubro 2021

. Setembro 2021

. Agosto 2021

. Julho 2021

. Junho 2021

. Maio 2021

. Abril 2021

. Março 2021

. Fevereiro 2021

. Janeiro 2021

. Dezembro 2020

. Novembro 2020

. Outubro 2020

. Setembro 2020

. Agosto 2020

. Julho 2020

. Junho 2020

. Maio 2020

. Abril 2020

. Março 2020

. Fevereiro 2020

. Janeiro 2020

. Dezembro 2019

. Novembro 2019

. Outubro 2019

. Setembro 2019

. Agosto 2019

. Julho 2019

. Junho 2019

. Maio 2019

. Abril 2019

. Março 2019

. Fevereiro 2019

. Janeiro 2019

. Dezembro 2018

. Novembro 2018

. Outubro 2018

. Setembro 2018

. Agosto 2018

. Julho 2018

. Junho 2018

. Maio 2018

. Abril 2018

. Março 2018

. Fevereiro 2018

. Janeiro 2018

. Dezembro 2017

. Novembro 2017

. Outubro 2017

. Setembro 2017

. Agosto 2017

. Julho 2017

. Junho 2017

. Maio 2017

. Abril 2017

. Março 2017

. Fevereiro 2017

. Janeiro 2017

. Dezembro 2016

. Novembro 2016

. Outubro 2016

. Setembro 2016

. Agosto 2016

. Julho 2016

. Junho 2016

. Maio 2016

. Abril 2016

. Março 2016

. Fevereiro 2016

. Janeiro 2016

. Dezembro 2015

. Novembro 2015

. Outubro 2015

. Setembro 2015

. Agosto 2015

. Julho 2015

. Junho 2015

. Maio 2015

. Abril 2015

. Março 2015

. Fevereiro 2015

. Janeiro 2015

. Dezembro 2014

. Novembro 2014

. Outubro 2014

. Setembro 2014

. Agosto 2014

. Julho 2014

. Junho 2014

. Maio 2014

. Abril 2014

. Março 2014

. Fevereiro 2014

. Janeiro 2014

. Dezembro 2013

. Novembro 2013

. Outubro 2013

. Setembro 2013

. Agosto 2013

. Julho 2013

. Junho 2013

. Maio 2013

. Abril 2013

. Março 2013

. Fevereiro 2013

. Janeiro 2013

. Dezembro 2012

. Novembro 2012

. Outubro 2012

. Setembro 2012

. Agosto 2012

. Julho 2012

. Junho 2012

. Maio 2012

. Abril 2012

. Março 2012

. Fevereiro 2012

. Janeiro 2012

. Dezembro 2011

. Novembro 2011

. Outubro 2011

. Setembro 2011

. Agosto 2011

. Julho 2011

. Junho 2011

. Maio 2011

. Abril 2011

. Março 2011

. Fevereiro 2011

. Janeiro 2011

. Dezembro 2010

. Novembro 2010

. Outubro 2010

. Setembro 2010

. Agosto 2010

. Julho 2010

. Junho 2010

. Maio 2010

. Abril 2010

. Março 2010

. Fevereiro 2010

. Janeiro 2010

. Dezembro 2009

. Novembro 2009

. Outubro 2009

. Setembro 2009

. Agosto 2009

. Julho 2009

. Junho 2009

. Maio 2009

. Abril 2009

. Março 2009

. Fevereiro 2009

. Janeiro 2009

. Dezembro 2008

. Novembro 2008

. Outubro 2008

. Setembro 2008

. Agosto 2008

. Julho 2008

. Junho 2008

. Maio 2008

. Abril 2008

. Março 2008

. Fevereiro 2008

. Janeiro 2008

. Dezembro 2007

. Novembro 2007

. Outubro 2007

. Setembro 2007

. Agosto 2007

. Julho 2007

. Junho 2007

. Maio 2007

. Abril 2007

.tags

. todas as tags

blogs SAPO

.subscrever feeds