O TEU NOME É UM VOCÁBULO
O teu nome é um vocábulo
de amor, uma carícia
que a língua desenvolve.
Não o posso pronunciar
em voz alta
quando não estou só. As
respirações alheias
corrompem: poderia
dissolver-se no vento,
fragmentar-se
perder
o seu mistério indecifrável,
desviar
a flecha do seu alvo.
Pronuncio-o eliminando
o som, das duas sílabas
que rolam no meu corpo,
abrem os poros e,
pelos olhos,
enviam a mensagem necessária
ao suporte de Outubro.
Tudo canta, rodeando o silêncio,
a ligeira brisa que perfuma
as letras
quando passas a porta
e o teu sorriso doce
avança para mim
A garganta abre-se,
as sílabas esvoaçam, transformam
o espaço em música,
os acordes da água:
o meu corpo é agora um piano
onde a alegria abre
a felicidade, as suas asas.
In “Os Confrades da Poesia”
Boletim Mensal Nº 43 – Dezembro.2011
Egito Gonçalves
(1920-2001)
PASSEIO AS MÃOS PELO TEU CORPO E SINTO-TE…
Passeio as mãos pelo teu corpo e sinto-te…
Sinto o pulsar do teu coração que bate desenfreado
Sinto a tua respiração num ritmo descontrolado…
Sinto que queres ser minha como eu ser teu
Sinto que és a rainha deste plebeu…
Mas sinto essencialmente a tua pele…
Toda ela é a tua essência
Toda ela é a mulher que foste,
A mulher que és, a mulher que amo:
Pele madura, vivida,
Repleta de marcas do tempo,
Perfeita para mim;
Pele suave, sensível,
Propensa a arrepios,
Beijada até ao fim…
Pele… é tua… é minha… é nossa…
Onde a tua termina, a minha começa…
Quando a tua sente frio, a minha te aquece
Quando a tua sente ardor, a minha te arrefece…
Não preciso de mapa para me orientar
Mas na tua pele ainda me posso perder
Em cada cicatriz, em cada recanto,
Em cada sinal, em cada encanto…
Pele com pele, eu sinto o teu aroma…
Pele com pele, o nosso único idioma…
In “Palavras Sussurradas”
Chiado Editora
Alexandra Santos
(N.1980)
FESTEJAR NO TEU CORPO A LIBERDADE
Festejar no teu corpo a liberdade
que a dobra desta noite pronuncia
sobre o nervo da voz foça de alarme
garganta milimétrica de abril
um cravo da coronha de um soldado
no campo há meia hora ainda em sentido
para o gesto tão fundo tão volável
infância já da luz dentro do sismo
jornais não censurados no tapete
uma fábula fértil de fogueiras
crepitando onde rola o som da estampa
interior ao rumo à labareda
o desenho final do nosso beijo
na premissa mais livre do meu sangue
(Abril 1974)
In “Só de Amor”
Edições Ática
Olga Gonçalves
(1929-2004)
UM NINHO
"Sabeis o que é um ninho, esse pequeno lar
Onde a ventura mora em noites de luar,
Onde a brisa suspira e canta a cotovia
Desde o romper da aurora ao declinar do dia?
Sabeis o que é um ninho em dias estivais,
Perdido no rumor dos bastos salgueirais,
À borda dum riacho alegre, saltitante,
Que vai de pedra em pedra até morrer, distante?
Sabeis o que é um ninho inundado de sol,
Onde desperta o melro e dorme o rouxinol?
Não, não sabeis! Pois bem. Juntai toda a ventura
Do vosso lar ditoso: os beijos, a ternura
D' uma extremosa mãe, os cuidados d'um pai,
Os risos d' uma irmã que tanto vos distrai,
Um doce olhar de avó, vaidosa no carinho,
E ficareis sabendo o que se chama um ninho."
In “Folhas em Branco” 1914
Imprensa Libanio da Silva
Afonso Simões
(1866-1947)
A RAPARIGA DO SWEATER VERMELHO
Para os que gostam de fruta tu tens o sabor almiscarado.
Entre os balubas serias uma fêmea baluba cor de cera.
No Egipto era uma flor de lótus o teu penteado
para os insectos serás outra variedade de pêra.
Na cama dos solitários andrenídeos
és um corpo apetecido pelas abelhas
e se em teus dedos nascer a flor dos suicídios
és um pecado venial de unhas vermelhas,
venial volumosa e branca muito odorífera
dando claridade à sombra dos quartos de aluguer.
Para os assassinos serás uma arma mortífera
para os pederastas a raiva de não serem mulher.
Para os anjos és talvez a alternativa
de em ti encarnar a graça que eles têm no ar.
É de ti mesma que estás arborizada e viva
ou serás como as rosas apenas para ver e cheirar?
In "O vinho e a lira"
Edições Afrodite
Natália Correia
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