CANÇÃO QUALQUER
A linda e frágil
Andorinha caída
Ficou na canção aflorada
Como o amor na minha vida ...
E a breve e flébil
Canção que veio aos lábios,
A tarde mal a susteve,
A brisa a levou sem mágoa...
In “ÁRVORE ”
Folhas de Poesia
Direcção e Edição de António Luís Moita, António Ramos Rosa, José Terra, Luís Amaro, Raul de Carvalho
1.º Fascículo - Outono de 1951
Pág. 17
Cristovam Pavia **
(1933-1968)
** Pseudónimo de Francisco António Lahmeyer Flores
NOITE
Na noite negra, pérfida e calada,
Alguém passa a cantar à minha porta;
É uma voz estridente, desgarrada
Que assim se vai perdendo pela estrada
E em que há todo o pavor da noite morta.
Um arrepio dessa voz, que tem
Um medo heróico à própria solidão,
Comunica-se e vem
Fazer tremer involuntariamente,
Sobre o livro que leio, a minha mão.
Depois vai-se fundindo, em sons dispersos,
Na noite surda, pérfida e calada…
Foi do pavor de seguir só na estrada
Que nasceram também estes meus versos.
Canções de entre Céu e Terra (1940)
In “Obra Completa de Francisco Bugalho”
Organização de Luís Manuel Gaspar, João Filipe Bugalho, Maria Jorge, Luís Amaro e Diana Pimentel
Prefácio de Joana Varela
Editora LG
Francisco Bugalho
(1905-1949)
ESTA DÚVIDA ATROZ ANTIQUÍSSIMA E ALEGRE
Esta dúvida atroz antiquíssima e alegre
dum mito longínquo inaceitável e verdadeiro
– a costureira pretendendo viver em Nova York
revoltada do contraste idêntico
ao da metafísica vulgo a fera-feroz
com a filosofia de Erasmo O Sábio na Sombra
Se bem que este axioma
seja idêntico à relação inversa
que levou Einstein ao encontro único com Platão
num ponto desconhecido do Universo
teremos:
primeiro – a deformação geométrica do triângulo
segundo – o homem despersonificado e morto
In “Sete poemas de solenidade e um requiem"
Edições Árvore
Carlos Eurico da Costa
(1928-1998)
O MAR AGITA-SE, COMO UM ALUCINADO
O Mar agita-se, como um alucinado:
A sua espuma aflui, baba da sua Dor...
Posto o escafandro, com um passo cadenciado,
Desce ao fundo do Oceano algum mergulhador.
Dá-lhe um aspecto estranho a campânula imensa:
Lembra um bizarro Deus de algum pagode indiano:
Na cólera do Mar, pesa a sua Indiferença
Que o torna superior, e faz mesquinho o Oceano!
E em vão as ondas se lhe enroscam à cabeça:
Ele desce orgulhoso, impassível, sem pressa,
Com suprema altivez, com ironias calmas:
Assim devemos nós, Poetas, no Mundo entrar,
Sem nos deixarmos absorver por esse Mar
– Pois a Arte é, para nós, o escafandro das Almas!
In "Bíblia do Sonho - Pores-de-Sol"
Alberto de Oliveira
(1873-1940)
DIA DE SOL
Vem, meu amor! Que dia tão bonito!
Iremos passear, se tu quiseres.
Parecem de ouro vivo os malmequeres,
Sob este sol, procriador, bendito!
Nem uma nuvem tolda o infinito!
Que riquezas sem par nos mostra Ceres!
Não te demores, meu amor, se queres,
Dar o passeio que hoje premedito.
Vem ver comigo as rosas dos valados,
As abelhas doiradas pelos prados,
E as borboletas volitando à toa!
Vê como o vento ondula os milharais...
Tanta florinha azul pelos trigais...
– Como eu te quero! E como a vida é boa!
In “Livro de Amor”
Livraria Editora Guimarães & Cª - 1924
Beatriz Beirão
(1891-1975)
CANTARES DOS BÚZIOS
Nunca como em Veneza
Adoro a nossa pobreza
Portuguesa;
As nossas casas caiadas,
As nossas praias salgadas,
Os burricos berberes,
E na Batalha de pedras douradas
A saia pela cabeça das mulheres.
Ó Veneza oriental,
Marítimo tesouro
De púrpura, de mármores e de ouro:
- Em Portugal
Rico só é o céu que nos lá cobre.
Portugal teve o Mundo - e ficou pobre.
In “Cem Poemas Portugueses sobre Portugal e o Mar”
Selecção, organização e introdução de José Fanha e José Jorge Letria
Editora Terramar
Afonso Lopes Vieira
(1878-1946)
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