Quarta-feira, 30 de Setembro de 2015

Recordando... Glória Marreiros

DANÇA DAS PALAVRAS

 

Foste o mel que adoçou a vida amarga,

que a lua, tristemente, me trazia.

Foste uma taça erguida à alegria,

com o sabor secreto duma sarga.

Libertaste minha alma, duma carga

submersa de doutrina que atrofia.

Agora a noite é escassa e fugidia

e a madrugada é luz que não me larga.

Deste asas aos prazeres do desejo,

trouxeste brisas leves, onde vejo

a ilusão formar um novo abrigo.

Foste o pão e o vinho, que não tive,

e a valsa dos meus beijos, em declive,

na dança das palavras que não digo!

 

In “Emoções em Terra Doce” - 2004

 

Glória Marreiros

(N.?)

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Sexta-feira, 25 de Setembro de 2015

Recordando... Fernando Esteves Pinto

APODERAVA-SE DAS MINHAS PALAVRAS

 

Apoderava-se das minhas palavras

como se fossem uma toalha do seu rosto

alguns utensílios reservados para a sua vida.

Eu escrevia casa e a casa teria de ser a defesa do nosso amor.

Eu escrevia cama e a cama transformava-se num jogo de silêncio.

Vivia por trás da minha escrita

como se preenchesse a alma de tudo o que não entendia.

Queria que eu mobilasse a vida só com palavras

breves imagens que fossem o retrato do meu pensamento.

Eu proporcionava-lhe a felicidade como um enigma

em cada palavra um sentimento formalmente virtual

depois abandonava-a com a ilusão do espaço decorativo.

 

In “Área Afectada”

Editora Temas Originais – 2010

 

Fernando Esteves Pinto

(N. 1961)

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Sábado, 19 de Setembro de 2015

Recordando... Eugénio Pinto Aires

UM DIA

 

Esvoaçam os pardais a chilrear,

são puras as cores, o dia já nasceu.

Mergulham no azul fresco do céu,

onde o Sol, desde cedo está a reinar.

 

Vem a tarde, e apetece caminhar,

sem ter destino certo, pelos montes…

E ao subi-los em silêncio, ouvem-se as fontes,

Que cantam noite e dia, sem parar.

 

Mas o Sol, pouco a pouco, vai descendo,

e o dia, cansado, vai morrendo

nos braços de uma noite de luar…

Luar que a Lua espalha como um véu,

sobre a Terra que há pouco adormeceu,

e que amanhã, com o Sol, volta a acordar.

 

In “Unearta”

Revista da União dos Escritores

e Artistas Transmontanos e Altodurienses

Ano I – N.º 1 – Janeiro 2002

 

Eugénio Pinto Aires

(N.?)

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Domingo, 13 de Setembro de 2015

Recordando... Castro Reis

MULHER TRANSMONTANA

 

A minha Mãe

e a todas as

mulheres transmontanas

 

Teu berço foi Trás-os-Montes,

Tua raça não engana!…

Aonde quer que te encontres

Dás sinais de transmontana!

 

Trazes no sangue a correr

Rios de sol e pujança!…

E tens nos olhos a arder

A chama viva da esp’rança!

 

Mulher e mãe-heroína,

Sem medalhas nem louvores!…

O teu exemplo ilumina

– P’la raíz das tuas dores!…

 

Gerou-te o frio e o calor

Em extremos de amargura!…

A terra te exige amor

– Quer na fome ou na fartura!

 

Teu rosto cheio de rugas

E as tuas mãos calejadas!…

Mostram a luta, sem fugas,

Dos serões e madrugadas!…

 

A neve e o sol te queimaram

Em gelras de vida amarga!…

Maus tempos te fustigaram:

– Mulher-carne, mulher-fraga!

 

Teu berço foi Trás-os-Montes,

Tua raça não engana!…

Aonde quer que te encontres

Não negas que és transmontana!

 

Belver – Carrazeda de Ansiães

Agosto de 1982

 

In “O Grito das Fragas” – Julho 1983

Edição do Grupo de Acção Recreativa

e Cultural Semente Nova (GARC)

 

Castro Reis

(1918-2007)

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Segunda-feira, 7 de Setembro de 2015

Recordando... Valter Hugo Mãe

SE NÃO ME QUERES NO VENTO AGRESTE

 

se não me queres no vento agreste

paro de te soprar no coração. pousa

o pássaro, pousa a tinta, posam as

folhas a tua mão.

 

vê-me no campo, entre os seres criados

para comer os raios do sol.

 

In "Anos 90 e agora"

Selecção e organização de Jorge Reis-Sá

Editora Quasi

 

Valter Hugo Mãe **

(N.1971)

 

** Nome artístico de Valter Hugo Lemos

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Terça-feira, 1 de Setembro de 2015

Recordando... Júlio Dinis

A ESMOLA DO POBRE

 

Nos toscos degraus da porta

De igreja rústica e antiga,

Velha trémula mendiga

Implorava compaixão.

Quase um século contado

De atribulada existência,

Ei la, enferma e na indigência

Que á piedade estende a mão.

 

Duas crianças brincavam

Á distancia, na alameda;

Uma trajava de seda

Da outra humilde era o trajar.

Uma era rica, outra pobre,

Ambas loiras e formosas,

Nas faces a cor das rosas,

Nos olhos o azul do ar.

 

A rica, ao deixar os jogos,

Vencida pelo cansaço

Viu a mendiga, - e ao regaço

Uma esmola lhe lançou.

Ela recebe-a; e a criança,

Que a socorre compassiva,

Em prece fervente e viva,

Aos anjos encomendou.

 

De um ligeiro sentimento

De vaidade possuída,

Á criança mal vestida

Disse a do rico trajar:

«- O prazer de dar esmolas

«A ti e aos teus não é dado;

«Pobre como és, coitada,

«Aos pobres o que hás de dar?»

 

Então a criança pobre,

Sem mais sombras de desgosto,

Tendo o sorriso no rosto

Da igreja se aproximou,

E após, serena, em silencio,

Ao chegar junto da velha,

Descobrindo-se ajoelha,

E a magra mão lhe beijou.

 

E a mendiga, alvoroçada,

Ao colo os braços lhe lança,

E beija a pobre criança,

Chorando de comoção!

É assim que a caridade

Do pobre ao pobre consola;

Nem só da mão sai a esmola,

Sai também do coração.

 

In “Poesias” - 1873

 

Júlio Dinis **

(1839-1871)

 

** Pseudónimo literário de Joaquim Guilherme Gomes Coelho

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