SE ME ESCOLHERES
Se me escolheres
Me quiseres como te quero
Se pegares em mim
E me guardares
Protege-me
E abriga-me
Não me deixes fugir
Não me largues
E faz-me tua
Faz-me tão tua
E única
E diferente de todos…
Se me escolheres
Me quiseres como te quero
Ama-me sempre
Sem mentira
Sem medo
Sem vontade de fugir
Com vontade de querer
E com desejo
De viver, rir
Crescer…
E faz de nós Um
Tão forte, grande
Único
Como a escolha feita
De nos querermos
Neste para sempre
Que é só nosso
Agora…
In “Vinho, Velas e Valquírias”
DG Edições - 2007
Maria Ana Ferro
N.1979
PRIMEIRO A TUA MÃO SOBRE O MEU SEIO
Primeiro a tua mão sobre o meu seio.
Depois o pé - o meu - sobre o teu pé.
Logo o roçar urgente do joelho
e o ventre mais à frente na maré.
É a onda do ombro que se instala.
É a linha do dorso que se inscreve.
A mão agora impõe, já não embala
mas o beijo é carícia, de tão leve.
O corpo roda: quer mais pele, mais quente.
A boca exige: quer mais sal, mais morno.
Já não há gesto que se não invente,
ímpeto que não ache um abandono.
Então já a maré subiu de vez.
É todo o mar que inunda a nossa cama.
Afogados de amor e de nudez
somos a maré alta de quem ama
Por fim o sono calmo, que não é
senão ternura, intimidade, enleio:
o meu pé descansando no teu pé,
a tua mão dormindo no meu seio.
In “Cem Poemas Portugueses no Feminino”
Selecção e Org. de José Fanha e José Jorge Letria
Editora Terramar
Rosa Lobato de Faria
1932 – 2010
MÃOS FERIDAS NA PORTA DUM SILÊNCIO
Vida que às costas me levas
porque não dás um corpo às tuas trevas?
Porque não dás um som àquela voz
que quer rasgar o teu silêncio em nós?
Porque não dás à pálpebra que pede
aquele olhar que em ti se perde?
Porque não dás vestidos à nudez
que só tu vês?
In "Poesia Completa"
Publicações Dom Quixote
Natália Correia
1923 – 1993
LÁGRIMA
Sem que eu a esperasse,
Rolou aquela lágrima
No frio e na aridez da minha face.
Rolou devagarinho...,
Até à minha boca abriu caminho.
Sede! o que eu tenho é sede!
Recolhi-a nos lábios e bebi-a.
Como numa parede
Rejuvenesce a flor que a manhã orvalhou,
Na boca me cantou,
Breve como essa lágrima,
Esta breve elegia.
In “Filho do Homem”
Portugália Editora
José Régio **
(1901 – 1969)
** Pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira
UM SOPRO DO CORAÇÃO
Esquece o que eu escrevi, deita-te aqui perto
e ouve só as minhas palavras sem sentido,
o balbuciar que eu solto antes da voz,
tudo o que há tanto tempo trago preso na garganta.
Nem o ritmo da cantilena aprendida na infância,
nem a música da poesia:
ouve apenas o balbuciar, o sopro antes da voz,
quase um estertor, mas a dizer agora
que estamos vivos.
In “Lendas da Índia”
Publicações D. Quixote
Luís Filipe Castro Mendes
N. 1950
QUE IMPORTA
Muitas vezes te esperei, perdi a conta,
longas manhãs te esperei tremendo
no patamar dos olhos. Que importa
que batam à porta, façam chegar
jornais, ou cartas, de amizade um pouco
- tanto pó sobre os móveis da tua ausência.
Se não és tu, que me importa?
Alguém bate, insiste através da madeira,
que me importa que batam à porta,
a solidão é uma espinha
insidiosamente alojada na garganta.
Um pássaro morto no jardim com neve.
In “A Musa Irregular”
Edições Asa
Fernando Assis Pacheco
1937 – 1995
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