DEFESA
O sól é meu e dos meninos ricos...
- Triste de quem não vê florir as rosas!
Triste de a quem somente foram dadas
ruas sombrias, lôbregos desvãos!
Ah!, mas não tenho a culpa. Sou moreno
sou forte, porque o Sol me quer assim.
Digam ao Sol, se entendem, que se esconda:
não me peçam a mim que esconda as mãos,
nem que neguem meus olhos e meus lábios
o milagre de o Sol gostar de mim!
In "Cabo da Boa Esperança"
Edições Ática
Sebastião da Gama
1924 – 1952
OUTRA INSÓNIA
ah noites lutando com polifemos
longas disputas com gnomos
sobre tudo o que nós fomos
e dissemos
ah noites em que me grito
como este mar sem repouso
nada tenho e não me tens
oiço apenas vagaroso
o carro do infinito
em que vinhas
mas não vens
In "Desesperânsia" - 2.ª edição
Corpos Editora
Anthero Monteiro
N. 1946
O SILÊNCIO
Peço apenas o teu silêncio,
como uma criança pede uma flor
ou um velho pedinte um bocado de pão.
Um silêncio
onde a tua alma se embrulha, friorenta,
trémula, à aproximação das invernias.
Um silêncio com ressonâncias de antigas primaveras
de outonos descoloridos
e de chuva a cair no negrume da noite.
- Vá, motorista de táxi,
transporte-me
através das ruas da cidade inextricável,
vertiginosamente,
buzinando, buzinando,
abafando o ruído de um outro silêncio!
In “Essência”
Brasília Editora
Saúl Dias **
1902 – 1983
** Pseudónimo de Júlio Maria dos Reis Pereira
DEIXASTE PASSAR...
Deixaste passar o tempo
(o fruto foi recolhido)
e as semeadas sementes
já não criaram raízes.
Alguns rebentos havidos
não foram mais que rebentos
impossíveis novos dias
e revividos momentos.
E é tarde p'ra outra vida
em terra fértil plantada
e com esp'rança de nascer:
uvas que nela surgidas
teriam um sabor ácido
e seriam sempre verdes.
In. "Auras do Egeu" - Out/2011
Ed. Fólio Exemplar
António Salvado
N. 1936
ASCENSÃO
Crepitam beijos, delirantes, vagos,
Na doida orquestração do meu desejo...
E quando beijo os teus cabelos magos
Sinto que vejo a ânsia doutro beijo...
Agora cresce a ronda dos afagos,
Vagos e Magos -- Triunfal cortejo!...
E teus olhos-auroras são dois lagos
Onde se espelha o teu amor, sem pejo!...
Hóstia de carne, alçada nos meus braços,
Num ritual bizarro, em que os abraços
São preces ruivas de missal antigo,
Ergo-te assim numa ascensão de glória,
E o nosso amor é grito de vitória
Nos meus lábios famintos de mendigo!...
In “Alma Nova” – Publicação Mensal
III Série – Janeiro/Março de 1924 – Nº 13, 14 e 15
Editora – Emp. Coop. de Arte e Publicidade “Ressurgimento”
Adelino de Palma Carlos
1905 – 1992
PARA ALÉM DO CORAÇÃO…
Quando o Amor funde as almas num olhar
que é pranto, em seu mistério -, o que se sente!
Treme o Universo em nós, divinamente!
- Numa lágrima cabe o seu luar!
Não tem fundo o abismo desse mar,
e não há céu mais alto e amanhecente!
O Passado e o Futuro -, eis o Presente
de que é feito esse instante singular!
Quem já amou com esse olhar profundo,
cujo fulgor transcende a Vida e o Mundo,
(sarça-ardente e divino amanhecer!),
- Quem já assim amou, esse, em verdade,
viveu Deus, o Infinito, a Eternidade,
- tudo o que foi, e é, e há-de ser!
In “Os dia do Amor, um poema para cada dia do ano”
Recolha, selecção e organização de Inês Ramos
Prefácio de Henrique Manuel Bento Fialho
Editora Ministério dos Livros
Bernardo de Passos
1876 — 1930
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