VEM A NOITE
Vem a noite. E um límpido
E frio cansaço rompe
Entre as árvores. O mar
Abranda quase ausente.
Breve toda a esperança
Já o sonho não persiste
E só o medo aumenta
A raiva o desespero.
Uma corda: a solidão.
Uma névoa antiga
E depois a queda livre
O alívio talvez.
Quem sua vida comanda
Também a morte ordena?
In “Poesia Reunida (1956 – 2011) ”
Editora Palimage – 2012
Liberto Cruz
N. 1935
PEDRA DE SÍSIFO
Agora medirei o tempo
Pela vara erguida ao meio-dia
Pela areia a descer o coração
E o sono
Pela cinza no cabelo de Jacob
Pelas agulhas no colo de Penélope
Agora lavarei a minha face
Sem perturbar os círculos da água Medirei o tempo pelo peso da pedra
De Sísifo, perto do cimo
E pelo musgo que dificulta
A firmeza dos seus pés
Partirei sozinho na viagem Sem nenhuma pedra ou senda repetida
E no tempo repetido acharei uma saída
Uma manhã depois de uma manhã
In “Poesia” – 2.ª edição
Edições Quasi – 2006
Daniel Faria
1971 – 1999
À NOITE
À noite
à ilharga do tempo
de mãos separadas
olhamos as estrelas.
Perdeste o isqueiro
e estás perturbada.
Tens razão:
deixaste para trás
um qualquer pertence
da realidade.
Hesitas se hás-de regressar
ao seu encontro
mas talvez te percas
exactamente aí
ao regressares.
Olha melhor as estrelas
é noite
e estamos à ilharga do tempo.
In “Dióspiro”
Poesia Reunida de 1977-2007
Quási Edições – 2007
Daniel Maia-Pinto Rodrigues
N. 1960
ALELUIA
Antes de te encontrar nem eu vivia
Nem mesmo sei dizer quem dantes era.
Andava atrás do sonho, da quimera,
procurava-se sempre e não te via.
Tu és o tronco. Eu sou a folha d'hera
Tu és na minha noite um claro dia.
Dás à minha tristeza uma alegria
Trazes ao meu inverno a primavera.
Esta paixão, sei lá porque m'a fazes...
Dá-me rosas, e cravos, e lilazes...
Eu quero a minha vida bem mudada.
Como se encontra o bem que se procura!
O meu passado esqueço-o: é noite escura.
Abro os olhos agora: é madrugada.
In “Namorados”
Portugália Editora – 1924
Virgínia Victorino
1895 – 1968
CHAMAMENTO
Da margem do sonho
e do outro lado do mar
alguém me estremece
sem me alcançar.
Um bafo de desejo
chega, vago, até mim.
Perfume delido
de impossível jasmim.
É ele que me sonha?
Sou eu a sonhar?
Sabê-lo seria
desfazer, no vento,
tranças de luar.
Nuvens,
barcos,
espumas
desmancham-se na noite.
E a vida lateja, longe,
num outro lugar
In “Cem Poemas Portugueses no Feminino”
Selecção, organização e introdução de José Fanha e José Jorge Letria
Editora Terramar
Luísa Dacosta
N. 1927
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