SONETO IX
Arreitada donzela em fofo leito,
Deixando erguer a virginal camisa,
Sobre as roliças coxas se divisa
Entre sombras subtis pachacho estreito;
De louro pêlo um círculo imperfeito
Os papudos beicinhos lhe matiza;
E a branda crica, nacarada e lisa,
Em pingos verte alvo licor desfeito:
A voraz porra as guelras encrespando
Arruma a focinheira, e entre gemidos
A moça treme, os olhos requebrados:
Como é linda boçal, perde os sentidos:
Porém vai com tal ânsia trabalhando,
Que os homens é que vêm a ser fodidos.
In “Poesias, eróticas, burlescas e satíricas”
Colecção Clássicos do Erotismo
Editora Escriba – 1969
Manuel Maria de Barbosa du Bocage
1765 – 1805
TEMPO
Não sei se te nomeie ou nomeie o vento,
isto que passa
e procura os outros lugares onde o pólen cai.
Talvez uma colmeia confie ao seu mel o que
ficou de um ano
em que a tempestade não se fez ouvir sobre
as corolas.
O que viste antes de setembro perdeu-se,
apagou-se,
afastou-se sem dizer nada,
como os barcos que pouco a pouco se
afastaram da nossa vida,
calados e brancos,
com as suas gaivotas de asas fechadas,
envelhecendo lado a lado, sobre o convés.
In “Agora e na Hora da Nossa Morte”
Assírio & Alvim
José Agostinho Baptista
N. 1948
ROSA CAÍDA
Rosa caída, quem te cortou?
Quem, da haste frágil,
Te lançou ao caminho
E te abandonou?
Quem de ti se esqueceu
E à sede te condenou?
Vem, levanta-te
Ou serás pisada!
Pés distraídos te calcarão!
Vem, levantar-te-ei
E numa jarra com água
Te colocarei.
Da fonte da vida,
Hás-de beber
E cheia de vida,
Te hei-de ver!
O veludo das pétalas,
Emurchecido, há-de renascer,
Tua cor e perfume,
Alegria irão espalhar
E, de novo, te sentirás viver.
Vem, beberás da água,
Sempre a jorrar
E em canteiro mimoso,
Te irei plantar.
Mãos carinhosas te afagarão
E darás vida a um coração!
In “O Livro da Nena” – Fevereiro de 2008
Papiro Editora
Maria Irene Costa
N. 1951
ALHEAMENTO
Ando não sei por onde
tão longe e não me fixo!
Que asa me levou
e não tem descanso?
Ando não sei por onde
sem grade nem encanto.
E no entanto
não regresso nem fico...
In “As Folhas de Poesia Távola Redonda"
Fundação Calouste Gulbenkian
Boletim Cultural – Série VI – n.º 11 – Outubro de 1988
Maria da Encarnação Baptista
N. 1924
ADORAÇÃO
Vi o teu rosto lindo,
Esse rosto sem par;
Contemplei-o de longe mudo e quedo,
Como quem volta de áspero degredo
E vê ao ar subindo
O fumo do seu lar!
Vi esse olhar tocante,
De um fluido sem igual;
Suave como lâmpada sagrada,
Benvindo como a luz da madrugada
Que rompe ao navegante
Depois do temporal!
Vi esse corpo de ave,
Que parece que vai
Levado como o Sol ou como a Lua
Sem encontrar beleza igual à sua;
Majestoso e suave,
Que surpreende e atrai!
Atrai e não me atrevo
A contemplá-lo bem;
Porque espalha o teu rosto uma luz santa,
Uma luz que me prende e que me encanta
Naquele santo enlevo
De um filho em sua mãe!
Tremo apenas pressinto
A tua aparição,
E se me aproximasse mais, bastava
Pôr os olhos nos teus, ajoelhava!
Não é amor que eu sinto,
É uma adoração!
Que as asas providentes
De anjo tutelar
Te abriguem sempre à sua sombra pura!
A mim basta-me só esta ventura
De ver que me consentes
Olhar de longe... olhar!
In “Amor Idílico”
Colecção Autores Portugueses de Ontem
Livraria Estante Editora – Março.1990
João de Deus
1830 – 1896
APENAS UM DIA AZIAGO
Levantou-se meu príncipe garboso
Veio a fada de varinha de condão
Fecha-se-lhe o cenho e temeroso
Meu gesto de esconder a solidão.
A abóbora guardada na garagem
Porque sonhar não era proibido
Já não vai servir de carruagem
Morrerá entre chouriços, no cozido
Príncipe de mil carinhos num só dia
Que me deixa doce e cheia de alegria
Agora no estômago a sensação de murro
Meu príncipe querido e idolatrado
Beijo às vezes o chão por ti pisado
Hoje te verei com orelhas de burro
In “Os Confrades da Poesia”
Ano IV – Boletim Bimensal Nº 48 – Maio/Junho.2012
Maria Vitória Afonso
N.1941
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